Críticas em nome do CRM desnaturam papel da entidade, ferem autonomia médica e constrangem profissional


Por Lenildo Ferreira

A fala de um diretor do Conselho Regional de Medicina da Paraíba a um portal de João Pessoa foi noticiada com tons de uma declaração oficial da própria entidade, embora o que se veja sejam opiniões bem pessoais de Bruno Leandro de Souza dentro da infindável controvérsia em volta de medicamentos como a cloroquina e sua eficácia, ou não, no tratamento da covid-19.

Como médico e como cidadão, Bruno pode manifestar livremente seu entendimento nessa discussão, é óbvio. No exercício da medicina, pode usar de sua autonomia profissional para não receitar o tal remédio. 

O que não pode é, em nome do CRM – se é que de fato o fez, ou seja, se não teve suas declarações colocadas em outro contexto distinto do objetivo da sua fala, o que não é improvável – condenar publicamente colegas que entendam em sentido contrário.

Sobretudo porque seria desnaturar o papel da entidade, a qual, ao invés de assegurar as prerrogativas dos médicos, estaria, nesse caso, servindo como instrumento para constranger publicamente seus associados, atentando contra uma autonomia reconhecida, inclusive, pelo Conselho Federal da classe.

Na publicação, por sinal, o nome de um médico do Hospital Pedro I é exposto, diretamente associado à fala do diretor do CRM, como se o especialista que assina o receituário agisse contrariando fundamentos científicos elementares, o que, para um médico, representa um duro ataque à sua idoneidade como profissional.

O conselho, que carrega a imagem de ser altamente corporativista, precisa agora explicar-se por uma situação que o coloca em posição exatamente contrária, de verdadeira autofagia.  

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ATUALIZAÇÃO (09/05/2021)

O diretor mencionado se pronunciou sobre o uso de sua fala, o que, segundo ele, ocorreu de maneira indevida. Leia aqui.

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