Ne-ga-ci-o-nis-ta



Por Uirá Coury, médico

A palavra da moda em discussões nestes tempos pandêmicos não poderia ser outra. Basta usar a ferramenta trends do Google para comprovar o ponto de vista que abordo na coluna de hoje (Fig.1 e 2).

E sua ascensão não é à toa, inclusive está em escala mundial, se disseminando tão rápido quanto o vírus SARS-Cov-2.

Fig.1 – Pesquisa da palavra no Google Trends - relevância nos últimos 5 anos.


 Fonte: <www.trends.google.com.br, acesso em 28 de janeiro de 2021.>

Fig.2: Pesquisa da palavra no Google Trends - relevância nos últimos 12 meses.


 Fonte: <www.trends.google.com.br, acesso em 28 de janeiro de 2021.>

Na Terra Brasilis, aquele país de 92% de analfabetos funcionais e uns 8% de sérias dúvidas (grifo nosso), a nova palavra das discussões entra para o folclore retórico no extenso capítulo de como discutir sem argumentos e achar que está com a razão. Naquela mesma linha de ¨racio-símio¨ que emprega a utilização daquelas palavrinhas mágicas cheias de sufixos, os tais –ismos lançados como flechas por este ou aquele grupo ideológico em direção aos seus inimigos imaginários.

Aqui peço sua paciência para observar também nesta outra imagem (Fig.3), que sem nenhuma surpresa, um dos estados onde a palavra está sendo mais usada é a nossa pequenina, o nosso Torrão Paraíba! E por favor, alguém veja para mim qual nosso índice de analfabetismo funcional (Risos).

Fig.3 – Pesquisa da palavra no Google Trends interesse da palavra por região do Brasil.




 Fonte: <www.trends.google.com.br, acesso em 28 de janeiro de 2021.>

Noto que aquele(a) que chama o seu interlocutor ou uma outra figura de ne-ga-ci-o-nis-ta tem a certeza quase absoluta de conferir a si próprio o status de “çábio” ou o “inteligentinho” da conversa. Com isso e sem querer/querendo há o intento de causar a esterilização do debate, seja na roda de amigos ou mesmo no campo minado do debate público, completamente enviesado por paixões de ocasião, sabe-se lá com quais finalidades republicanas (ou não).

Veja que ao chamar alguém disso, você aparentemente não precisa de maiores argumentos ao passo que posa como o mais abalizado sobre aquele determinado assunto, mesmo sendo um completo papangú, como dizemos aqui na terrinha.

É como se fosse inserido numa zona de conforto de uma suposta blindagem dialética. Não recomendo, mas experimente chamar o seu interlocutor ou alguma figura pública de ne-ga-ci-o-nis-ta em uma reunião/roda de conversa e perceberá a “força” do seu argumento quando alguém disposto a confrontá-lo se dedicar a um verdadeiro contorcionismo linguístico para tentar refutar o seu, digamos, ¨ponto de vista¨ que na verdade não passa de uma argumentação no mínimo preguiçosa.

Então, recomendo que antes de usar a nova “muleta retórica” dita aos quatros cantos do globo, por todos os segmentos e paixões ideológicas, influenciado(a) ou não por certa opinião publicada, procure estudar, aumente a força do seu ponto de vista com embasamento em fontes confiáveis. Evite chamar alguém ou algo de ne-ga-ci-o-nis-ta pela sua falha contextual, pela sua acídia.

Particularmente a minha reação natural ao ver tal palavra sendo proferida, é me afastar da conversa ou desligar a TV/mudar de canal, vou brincar com as crianças! Deixar o “çábio” falando só é uma das maiores sacadas, digamos, dialéticas destes tempos. Porque ao tentar refutar, talvez o “inteligentinho” da vez poderá ser você.

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* Qualquer semelhança com pessoas/programas jornalísticos e figuras públicas "inteligentinhas" pode não ser uma mera coincidência.


PERFIL

Esposo, pai de 2 meninos, Uirá Coury é médico pela UFCG, cirurgião de cabeça e pescoço pelo INCA-RJ, trezeano, mestre em Ciência e Tecnologia pelo NUTES-UEPB. Atua como médico da FAP e do Hospital Universitário Alcides Carneiro, exercendo no HU o cargo de chefe da Unidade de Cirurgia Geral e Preceptor de Cirurgia.

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