Saluno Nunes: Com queda nos homicídios, Campina é “quase primeiro mundo”

 


A vendedora está do outro lado do balcão quando percebe a mira de uma arma de fogo à sua testa. “É um assalto!” O professor passou a tomar remédios para dormir depois de reprovar um aluno que, insatisfeito, exibiu um punhal embaixo da camisa e disse “a gente se vê por aí...” O jogador de sinuca enraivecido nem ameaçou: partiu para cima do até então colega de jogo e desferiu golpes de faca no abdômen do parceiro. A vítima escapou por pouco.

Embora sejam crimes diferentes – roubo, ameaça e tentativa de homicídio –, em todos eles as vítimas, no fim, têm apenas um medo em comum: ser assassinado(a). Quando um cidadão qualquer chega à sua casa e se depara com tudo revirado, a sensação da morte parece automática, embora não tenha mais nenhum ladrão na residência. É como se a vítima tivesse sido salva pelo atraso.

Na verdade, o índice de latrocínio (“homicídio durante um roubo”) é relativamente baixo no Brasil, se comparado ao do homicídio propriamente dito: foram 1.434 casos contra 36.134 registros, respectivamente, no período de janeiro a novembro e 2019. Os dados são do Ministério da Justiça.

Mas num país onde se mata tanto, o psicológico das pessoas não tem tempo de procurar saber o porquê das mortes. Qualquer um pode ser o alvo da vez e ponto final.

É por isso que a redução do número de homicídios numa comunidade é um dado importantíssimo. Quanto menos gente morrendo [assassinada], menor a preocupação de ser vítima desse crime. E menos preocupação é mais qualidade de vida.

A meta

Estudiosos defendem que, para uma sociedade ser considerada ‘segura’, ela deve apresentar, no máximo, 10 registros de homicídio para cada grupo de 100 mil habitantes. Ou seja, se uma cidade tem 500 mil moradores, por exemplo, seu número de assassinatos não pode passar de 50 por ano. Até aí, o município estaria dentro dos parâmetros aceitáveis.

Campina Grande

Para quem não é afeito ao tema, soa até estranho dizer que Campina Grande beira o status de ‘primeiro mundo’, no quesito segurança/violência. Mas os números ajudam os argumentos. A Rainha da Borborema vem, ano a ano, baixando seus casos de homicídios na cidade: foram mais de 100 registros em 2017, caíram para 95 em 2018, depois para 52 em 2019, fechando 2020 com 51 mortes.

Campina, portanto, com seus mais de 400 mil habitantes, está à beira de atingir a meta defendida por pesquisadores da temática.

• “Mas por que esse tipo de crime está caindo?”
• “De que adianta diminuir os homicídios e não controlar os assaltos?”
• “Os crimes em queda traduzem a sensação de segurança?”

São assuntos para os próximos textos...


Saulo Nunes é formado em Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Ingressou via concurso público no sistema penitenciário do estado em 2009, onde permaneceu como policial penal até o ano de 2015. A partir daí, também após aprovação em concurso, passou a trabalhar como Investigador da Polícia Civil. É autor de Monte Santo: A casa de detenção de Campina Grande

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