É de cortar o coração imaginar o sofrimento por que passa uma mulher de 32 anos de idade, que perdeu seus dois filhos – de oito e quatro anos – após sair da pista, na cidade de Alcantil (PB), e capotar o veículo que dirigia. Ela foi socorrida ao Hospital de Traumas de Campina Grande e recebeu “alta hospitalar provisória” para acompanhar o sepultamento das crianças.
As primeiras informações são de que a condutora do carro tentou desviar de um motoqueiro que estaria fazendo manobras perigosas na estrada. Ela não só perdeu o controle do automóvel, como também a maior riqueza que um ser humano pode ter na vida: seus filhos.
Nas redes sociais, uma pessoa fez uma publicação lamentando o episódio e pedindo que a polícia não deixe esse caso impune. Para a nossa infelicidade, as circunstâncias do fato não são nada animadoras (pelo menos dentro do contexto divulgado pela imprensa).
Imagine você na situação dessa mulher: você segue na sua rota, visualiza a moto se aproximando, tenta uma forma de não colidir e sai da pista. Será se deu tempo identificar pelo menos na cor da motocicleta?
E da roupa do motoqueiro? Do capacete? Caso ele não tivesse usando o equipamento de segurança, ela teve condições de memorizar o rosto? Deu tempo?
Onde foi o sinistro? Em zona urbana? Na estrada? Muito – MUITO! – provavelmente não há câmeras de segurança na área. Se houver, será pura providência divina, pois esses aparelhos são cruciais nas investigações.
Não, a ideia aqui não é semear desesperanças. Na verdade, estamos considerando o enredo que está sendo veiculado pela imprensa. Por vezes, a equipe de investigação tem muito mais informações do que se imagina, graças a outros métodos investigativos.
Há crimes em que os policiais têm uma quantidade considerável de indícios, mas por um ‘detalhe’ o caso demora a ser elucidado. E há outros delitos totalmente desprovidos de informações importantes, porém um simples ‘detalhe’ cai como a maior das provas. Eis a magia da Investigação Criminal.
O que eu tento expressar neste texto é a complexidade da atividade policial investigativa em determinados episódios. É preciso colher muitas informações, analisar muitos aspectos. Isso leva tempo. E numa expressão bem conhecida em nosso meio, “o tempo que passa é a verdade que foge”.
Torçamos para que os policiais incumbidos da investigação no caso possam chegar à verdade real dos fatos. Porque quem é pai/mãe e policial também se vê de coração cortado nessas horas.
O número 197 é extremamente seguro e sigiloso. A ajude a polícia.
PERFIL
Saulo Nunes é formado em Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Ingressou via concurso público no sistema penitenciário do estado em 2009, onde permaneceu como policial penal até o ano de 2015. A partir daí, também após aprovação em concurso, passou a trabalhar como Investigador da Polícia Civil. É autor de Monte Santo: A casa de detenção de Campina Grande