"A nova ‘epidemia’ que se espalha entre os idosos em Campina Grande"


 

O advento da pandemia que sacudiu o mundo nos lançou um desafio praticamente impossível de se encarar: poupar os idosos da matança que a Covid-19 causa. Apesar de a doença atingir – e matar – pessoas de todas as faixas etárias, a maior parte das vítimas fatais se concentra nos nossos velhinhos.

Lembro-me bem de que, no início desse pesadelo, parte da sociedade civil se mobilizou para ajudar as pessoas da terceira idade nos mínimos detalhes do cotidiano, como fazer compras para eles e deixar as sacolas em suas portas. Isso minimizaria a probabilidade de o vírus chegar a essa fatia mais vulnerável da sociedade.

A própria prioridade na aplicação das vacinas atualmente é a prova cabal de que, quanto mais idoso, mais indefeso é o organismo do ser humano, no tocante ao coronavírus. Passamos de um ano de pandemia, e as atenções com os nossos pais, avós e familiares mais velhos se mantêm firme.

Uma epidemia

Agora, eu chamo atenção para uma espécie de ‘epidemia’ que atinge em cheio esse mesmo público alvo: os sucessivos golpes de estelionatários que estão fazendo fortuna [para fortalecer o crime] e arruinando a saúde mental e financeira dos nossos pais, avós e familiares mais velhos.

Uma das variantes dessas fraudes já foi registrada em 14 boletins de ocorrência, somente no mês de fevereiro de 2021, na Delegacia do Idoso, em Campina Grande. O caso também foi destaque no Fantástico da Rede Globo, nesse domingo, 28 de fevereiro.

De forma resumida: a vítima recebe uma ligação telefônica em que a pessoa do outro lado da linha se identifica como funcionário de bancos ou empresas de cartões de crédito. Eles informam que alguém efetuou compras indevidas no cartão, pede dados da vítima e orientam que ela telefone para o número no verso do cartão – isso mesmo, o número no verso do cartão!

A vítima segue as orientações, e essa ligação é simplesmente direcionada a uma central clandestina dos criminosos. Pensando estar falando com funcionários de bancos ou empresas de cartões, a vítima se compromete a entregar seu cartão ao ‘representante’ que irá chegar à sua casa, dali a instantes.

Essa pessoa chega, pega o cartão da vítima e vai embora, com a promessa de que o objeto será periciado. Os criminosos, então, realizam compras, saques e empréstimos no cartão, concretizando o golpe que, segundo a reportagem do Fantástico, já rendeu mais de R$ 14 milhões somente no estado de São Paulo.

A vacina

De acordo com o delegado Ramirez São Pedro, da Delegacia do Idoso em Campina, esse tipo de golpe vem se alastrando nas pessoas de faixa etária mais elevada, tal qual a pandemia que mexeu com o planeta. A Polícia Civil já conseguiu imagens de um suspeito e está investigando o caso.

O lado bom dessa história é que as formas de prevenção contra esse mal são infinitamente mais simples de serem adotadas. Basta chegar ao idoso e dizer a ele(a) que “não retorne ligações de bancos e NUNCA forneça dados por telefone”.

Uma breve explanação de como funciona esse golpe é mais rápido do que ir ao mercado comprar produtos e voltar com as sacolas para deixar na porta dos nossos velhinhos. Quanto mais idosos souberem em detalhes como funciona essa fraude, menos essa epidemia irá se espalhar.

E a sociedade civil pode contribuir muito nessa simples missão.


PERFIL

Saulo Nunes é formado em Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Ingressou via concurso público no sistema penitenciário do estado em 2009, onde permaneceu como policial penal até o ano de 2015. A partir daí, também após aprovação em concurso, passou a trabalhar como Investigador da Polícia Civil. É autor de Monte Santo: A casa de detenção de Campina Grande

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