Por Saulo Nunes
Na noite dessa segunda-feira, 26 de abril, dois homens tentaram roubar uma tapiocaria no bairro das Malvinas, em Campina Grande. Um deles ficou na moto, aguardando o comparsa voltar com o dinheiro que seria tomado. Só que o proprietário do estabelecimento, Josemar da Silva, reagiu, tentou uma luta corporal com o bandido e acabou ferido pelos tiros que o assaltante efetuou. Os criminosos fugiram, e a vítima morreu.
Como tudo foi registrado pelo circuito de câmeras, as imagens ganharam a internet e projetaram uma grande repercussão na cidade. Em questão de minutos, o autor dos disparos já estava identificado. As polícias já sabiam, inclusive, o endereço do criminoso.
O bairro onde o alvo mora foi tomado por viaturas à caça do ladrão. Era questão de honra elucidar o caso ainda naquela noite, já que a tapiocaria era muito frequentada por policiais em serviço e de folga. Muitos deles já tinham um certo grau de amizade com Josemar.
Circulavam informações de que até a ‘bandidagem’ estava querendo a cabeça do assassino. Diante de todo esse contexto, o latrocida se viu encurralado por três situações iminentes:
1 – Seria preso pela polícia
2 – Seria morto pelos bandidos
3 – Seria obrigado a fugir da cidade
Na manhã do dia seguinte (terça-feira, 27), o homem mais procurado de Campina Grande resolveu se entregar. Foi até a Central de Polícia Civil, se apresentou como o sujeito que matou o dono de uma tapiocaria e foi submetido aos procedimentos policiais de praxe.
E é aqui onde entra o título deste texto: “O que faz um autor de crime grave se entregar à polícia (especificamente como o do caso em tela)? ” É claro que não é ‘arrependimento’. É pressão mesmo.
Pressão da polícia, que cedo ou tarde botaria as mãos no assassino. Pressão da bandidagem, que, como se diz na linguagem policial, “vomitaria o cara logo” para evitar aquele povo indesejado – A POLÍCIA – fazendo rondas e abordagens no bairro, dia e noite, à procura do assaltante. Afinal, o tráfico precisa prosperar...
Pressão de ter que “fugir não sei pra onde”, com o nome brevemente incluso entre os procurados em todo o país, no Banco Nacional de Mandados de Prisão. É pressão!
Pressionado, o cara não aguentou 24 horas ‘desaparecido’ e foi bater à porta da Delegacia de Roubos e Furtos de Campina Grande, cuja equipe policial também já estava na sua cola “desde ontem”. O assassino confessou o crime (claro) e tentou reproduzir o que o seu advogado orientou, como forma de “amenizar a situação”.
Em casos como este, o ‘arrependimento’ pode até vir depois. Arrepender-se significa “nunca mais fazer aquilo novamente”, o que só o tempo nos dirá.
Foi pressão mesmo.
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PERFIL
Saulo Nunes é formado em Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Ingressou via concurso público no sistema penitenciário do estado em 2009, onde permaneceu como policial penal até o ano de 2015. A partir daí, também após aprovação em concurso, passou a trabalhar como Investigador da Polícia Civil. É autor de Monte Santo: A casa de detenção de Campina Grande