Com "maior crise da história", setor filantrópico da saúde vai parar em todo o Brasil


Hospital da Fundação Assistencial da Paraíba (FAP), em Campina Grande, vai se integrar ao movimento

Hospitais filantrópicos de todo o Brasil vão promover uma campanha neste mês de abril buscando chamar a atenção da sociedade para a crise enfrentada pelo segmento, a fim de cobrar iniciativas efetivas das autoridades em relação ao problema que, segundo a Confederação das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB), vem se agravando.

Por isso, foi lançada a campanha “Chega de Silêncio! Gestores e Profissionais de saúde rompem o silêncio para expor a crise da maior rede hospitalar do SUS”, que, dentre outras ações, provocará a paralisação e reagendamento de procedimentos eletivos em todos os hospitais filantrópicos do Brasil a partir do dia 19 de abril - terça-feira.

Entre os dias 25 a 28 de abril, serão promovidas ações envolvendo caravanas com integrantes de federações e hospitais filantrópicos. Em Campina Grande, o Hospital da Fundação Assistencial Paraíbana vai se integrar a programação, conforme explicou o diretor-presidente da FAP, Derlópidas Neves.

“DESCOMPASSO BRUTAL” E FECHAMENTO 

A crise, de acordo com a Confederação, piorou expressivamente com a pandemia, gerando um quadro preocupante, “levando os hospitais a um alto endividamento, em mais de R$ 20 bilhões, sucateamento das suas estruturas físicas e tecnológicas, agravada durante a pandemia e persiste com cenário irreversível de caos, principalmente no abastecimento de materiais e medicamentos com preços elevadíssimos, além da inflação que persegue os custos dos nossos hospitais letalmente”.

Em nota, a CMB detalha a extrema gravidade da crise crescente. “Desde o início do Plano Real, a tabela SUS e seus incentivos foi reajustada em média em 93,77%, enquanto o INPC foi 636,07%, o salário-mínimo foi 1.597,79% e o gás de cozinha 2.415,94%”, explica. 

“Este descompasso brutal representa 10,9 bilhões de reais por ano de desequilíbrio econômico e financeiro na prestação de serviço ao SUS, de todo o segmento. Desta forma, se não houver políticas imediatas, consistentes, de subsistência para estes hospitais, dificilmente suas portas se manterão abertas e a desassistência da população é fatal”, complementa.

Segundo publicação da Veja, 315 hospitais filantrópicos fecharam as portas no Brasil nos últimos seis anos.

PISO DA ENFERMAGEM

Já abalada, a rede filantrópica acompanha com enorme preocupação o andamento no Congresso do projeto de lei 2564/20, que estabelece o piso salarial da enfermagem. O impacto da mudança para o segmento é estimado em mais de R$ 6,3 bilhões por ano.

À revista Veja, Mirocles Véras, presidente da CMB, detalhou a repercussão. “Não somos contrários ao projeto, muito pelo contrário, os hospitais valorizam todos os profissionais de saúde. Mas a nossa realidade torna o cumprimento desse projeto insustentável e estabelecendo-se definitivamente a falência dessas instituições”, disse.

MAIOR REDE HOSPITALAR DO BRASIL

Segundo dados da CMB, estão em atividade 1.824 hospitais filantrópicos no Brasil, com “169 mil leitos hospitalares e 26 mil leitos de UTI, sendo que em 824 municípios do Brasil, a santa casa ou hospital filantrópico é o único equipamento de acesso ao cuidado e à assistência em saúde, com uma representatividade ao SUS nacional de 70% do volume assistencial da alta Complexidade e 51% da média complexidade”. 

“Anualmente faz mais de 5 milhões de internações, 1,7 milhão de cirurgias e mais de 280 milhões de atendimentos ambulatoriais. Dependem economicamente destas instituições mais de 3 milhões de pessoas, com vínculo direto e/ou indireto”.

Os números apontam, com bastante clareza, não apenas a profundidade e extensão da crise, mas o prognóstico assustador para uma faixa expressiva da população que tem no já combalido SUS o único remédio para a luta entre a vida e a morte.

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