"Por que a Paraíba é primeiro lugar no Nordeste no quesito ‘Segurança Pública’?"

Por Saulo Nunes *


O que proporciona, de fato, um cenário razoável de segurança pública? O que um estado ou região precisam para oferecer a sensação de segurança que as pessoas tanto desejam? Recursos financeiros? Baixo contingente populacional? Leis adequadas?

O Centro de Liderança Pública (CLP) acaba de divulgar a versão 2022 do Ranking de Competitividade dos Estados, abordando diversos segmentos (Educação, Infraestrutura, Sustentabilidade, Solidez Fiscal, Segurança, etc.), e o estudo traz informações interessantes sobre o tema da coluna, que é a Segurança Pública.

Pelos dados do CLP, a Paraíba ocupa o 1º lugar no Nordeste e a 6ª colocação entre as 27 unidades federativas do país. Para este artigo, eu elaborei uma tabela simples, classificando os nove estados nordestinos conforme sua população (da maior para a menor) e, ao lado, informações sobre o Produto Interno Bruto (PIB) de cada um deles.

Assim, ‘de cara’, dá para percebermos que recursos financeiros não são requisito suficiente para garantir sensação de segurança à população. Ora, os estados nordestinos mais ricos – Bahia, Pernambuco e Ceará – são justamente os que tiveram o pior desempenho no levantamento do CLP. Eles ocupam as últimas colocações do ranking no Nordeste e ‘fracassaram’ de forma semelhante no cenário nacional.

Coincidência ou não, essas três unidades federativas mais ricas da nossa região são também as que detêm os maiores contingentes populacionais no Nordeste. Mas é bom lembrar que, embora o quesito ‘população’ influencie no fenômeno da violência – “quanto mais gente, mais probabilidade de crimes” –, o critério também não pode ser visto isoladamente, senão o estado de São Paulo (o maior do Brasil) não teria ficado na 4ª posição nacional do ranking.

Voltando para o foco no Nordeste, o estado menos populoso – Sergipe – é também o mais pobre, considerando-se o PIB. Nem por isso, está nos extremos – primeiro ou último lugar – do ranking da Segurança Pública traçado pelo CLP. Ele é o 5º colocado do Nordeste e o 17º do Brasil.


PARAÍBA

Ne edição 2022 do CPL, o grande destaque nordestino é a Paraíba, que desponta no primeiríssimo lugar na região e o 6º colocado em nível nacional. Nós somos a quinta maior população no território nordestino e estamos em 6º na lista do PIB, no Nordeste.

Ou seja, entre as quatro linhas da região, não somos nem os maiores nem os menores em termos de recursos financeiros e populacionais. Mas estamos no primeiro lugar no quesito ‘Segurança Pública’. 

Por quê?

‘Violência’ é um fenômeno muito complexo para apontar um, dois ou três fatores responsáveis por seu controle/descontrole. Não existe um único herói ou vilão nessa história. 

É possível, claro, encontramos fatores cruciais que possam explicar esse cenário, até porque nada é por acaso e tudo tem uma explicação. A complexidade do fenômeno ‘violência’, no entanto, parece desencorajar cientistas/pesquisadores no aprofundamento [honesto e fiel] desse tipo de pauta, pois muitas fontes de conhecimento permanecem intocáveis pelos estudiosos.

A lista é longa...

1 – Quais tipos de crimes poderíamos listar como os mais violentos? Homicídio? Latrocínio? Ataques a bancos e carros-fortes? Estupros?

2 – Nos nove estados nordestinos, quais os percentuais de esclarecimento desses tipos de crime?

3 – Qual o número de prisões de criminosos em cada modalidade?

4 – E o de condenações?

5 – Quantas armas apreendidas? 

6 – Existem favelas nesses estados? Quantas? E quantas são ‘inacessíveis’ às polícias?

7 – O nível de educação/escolarização influencia? Até que ponto? Como explicar, por exemplo, que a cidade de Sobral (CE) – destaque pela quarta vez consecutiva em primeiro lugar no ranking nacional da Educação – tem metade da população de Campina Grande (PB) e o dobro de homicídios?

8 – Existem facções criminosas? Quantas? Quando surgiram em cada estado? 

9 – Quantos bandidos morreram em confronto com as polícias nesses estados? E quem eram eles?

10 – Listo outros dez tópicos agora relacionados aos presídios ou já deu para captar o espírito da coisa?

Como se vê, não é tarefa nada fácil acompanhar o ritmo da violência. A estrada é longa e cheia de bifurcações que expõem análises necessárias. Ainda assim, se a Segurança Pública da Paraíba foi a que apresentou o melhor desempenho no Nordeste perante os critérios do CPL, brindemos sem moderação. 

Sem moderação mesmo! Porque há décadas que ‘o crime’ vence as polícias na conquista por espaços midiáticos, e até isso interfere na balança que regula o peso da violência.

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Saulo Nunes é formado em Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Ingressou via concurso público no sistema penitenciário do estado em 2009, onde permaneceu como policial penal até o ano de 2015. A partir daí, também após aprovação em concurso, passou a trabalhar como Investigador da Polícia Civil. É autor de Monte Santo: A casa de detenção de Campina Grande

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