"Crise de identidade cultural faz parte do processo de mudança contemporânea" - Por Regina Amorim


A crise de identidade cultural faz parte do processo de mudança contemporânea, que está abalando as referências de pertencimento. A sociedade em rede e o poder crescente da identidade são processos sociais interligados, que definem a transformação social no século XXI.

Quanto mais o mundo se torna global, mais as pessoas se sentem locais. A identidade territorial é uma força fundamental de pertencimento. A nação é um sistema de representação cultural simbólica, que dá significado e importância a nossa existência. O que constitui uma cultura nacional são as memórias do passado, o desejo de viver em sociedade e a perpetuação da herança.

O interesse e o compromisso para que a cultura se torne parte integrante das políticas de governo, tem sido uma atitude de poucos dirigentes. As políticas culturais precisam prever em seu planejamento, as suas diversas fontes de financiamento. É preciso antecipar-se aos problemas e prever mecanismos para solucioná-los.

A decisão de manter políticas culturais no apoio à produção artística é uma questão de vontade política, que contribui para o reconhecimento da produção cultural e para a construção permanente da identidade territorial.

É preciso quebrar a resistência de muitos empresários, para a sua participação ativa no investimento social e cultural. Uma lei de incentivos fiscais para a cultura não é o único instrumento de captação de recursos financeiros para o setor. No Brasil, a tradição de recursos privados na área cultural é inexpressivo e pouco se fez para atrair investidores.

A diversificação de fontes de financiamento, seja pública ou privada, é uma das possibilidades de se garantir a estabilidade para o setor cultural.

Embora as artes sejam parte da cultura, a criatividade é um elemento intrínseco a elas e mais compatível em seu diálogo com o mercado. A economia criativa expande o universo da economia da cultura, por agregar valor às cidades e contribuir cada vez mais para a concentração de áreas criativas, tais como: publicidade, moda, design, música, literatura, arquitetura, gastronomia, artesanato, audiovisual, cinema, arte midiáticas e tantas outras.

A arte e a cultura no núcleo da economia criativa, passa a ter mais visibilidade e muda o olhar e a postura dos artistas e produtores culturais, para dialogar com outros profissionais que nada têm a ver com o mundo das artes e da cultura, mas contribuem com infraestruturas de apoio à economia criativa.

Por outro lado, temos o novo perfil dos consumidores que privilegiam em suas escolhas o elemento criativo e simbólico. As estratégias de comunicação também assumem papel fundamental para legitimar produtos à frente do mercado e como exemplo, destaco o segmento da moda. A globalização trouxe a moda criativa com identidade nacional a partir de 1990, quando estilistas brasileiros incorporaram a arte popular do Brasil nas suas criações, valorizando as rendas, os bordados e outras tipologias do nosso artesanato. 

SEBRAE tem contribuído para ajudar empresas a pensar em novas formas de fazer negócio, com ações para o fortalecimento dos diversos setores, trazendo diferencial competitivo e estratégico, para o desenvolvimento cultural regional. 

O artesanato também é um segmento que faz parte da cultura regional e tem sido beneficiado com as consultorias de designers para melhoria de peças artesanais e o acesso a mercados. O artesanato paraibano estará na vitrine do CRAB – Centro de Referência do Artesanato Brasileiro, no Rio de Janeiro – RJ, no período de 16 de dezembro de 2022 a 15 de março de 2023, como negócio inovador e criativo.

Turismo é outra atividade econômica que vem inovando o seu conceito, tendo a criatividade e a cultura como elementos fundamentais do desenvolvimento econômico local, nas experiências únicas das rotas e roteiros turísticos.

A cultura e as artes cumprem um importante papel nas estratégias de requalificação de regiões e cidades, em articulação com áreas de segurança, limpeza, conservação urbana, iluminação e outras. Por isso é fundamental que os setores público e privado, passem a fomentar a economia criativa e a pensar o desenvolvimento, como um processo relacionado às capacidades criativas das pessoas.

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Regina Amorim é formada em Economia pela UFPB, Especialização em Gestão e Marketing do Turismo pela UNB - Universidade de Brasília e Mestrado em Visão Territorial para o Desenvolvimento Sustentável, pela Universidade de Valência - Espanha e Universidade Corporativa SEBRAE. Atualmente é Gestora de Turismo e Economia Criativa do SEBRAE/PB.

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