Antônio Inácio da Silva Neto gostava de contar uma história de sucesso e superação que, em sua narrativa, para ganhar tons mais coloridos, nitidamente aumentava um pouco aqui e omitia outro tanto ali.
O fundador da Braiscompany, que não por acaso mudou até de sobrenome, omitia o passado recentíssimo de “duplo diamante” da malfadada I9Life e outras aventuras em empreendimentos no mínimo duvidosos, como a D9 Club.
Mas, por outro lado, se apresentava como advogado e gostava de dar a entender que, em sua ascensão de Cuité para o Mundo, deixou para trás uma carreira jurídica para mergulhar no negócio da China dos criptoativos.
Em entrevistas (como no trecho abaixo), assim como reportagens publicitárias e conteúdos afins, Neto se apresentava e deixava se apresentar como advogado, principalmente citando uma suposta atuação no escritório do tio, Marcos Inácio, um nome extremamente respeitado no meio jurídico e com atuação em vários estados e até fora do Brasil.
Até em seu perfil no Linkedin, o dono da Braiscompany se apresenta como tendo sido advogado na firma do parente entre 2008 e 2016. Só que, como praticamente tudo na narrativa do senhor Ais, a história não é bem assim.
Uma busca no cadastro nacional de advogados, que pode ser facilmente acessado por qualquer pessoa, mostra que o “especialista em blockchain”, que cursou uma faculdade de direito no Ceará, não tem OAB. E, portanto, não é advogado e jamais poderia ter se apresentado nem permitido ser apresentado como tal.
Aliás, a busca nacional até mostra um advogado com o nome exatamente igual ao do bacharel, porém, outra pessoa, como confirma o documento disponível online.
POSICIONAMENTO DO ESCRITÓRIO MARCOS INÁCIO
Nossa equipe de reportagem procurou o escritório de Marcos Inácio, tio de Antônio Neto e um nome bastante respeitado no meio jurídico, para saber se o hoje foragido empresário trabalhou por lá e qual função teria desempenhado. Por meio de nota divulgada pela assessoria de imprensa, o escritório explicou que Antônio Neto havia atuado apenas como estagiário, nunca como advogado, e num período bastante inferior ao que o dono da Braiscompany alega em seu Linkedin.
A seguir, reproduzimos a nota na íntegra:
Nota
Antônio Neto foi estagiário entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015, enquanto cursava Direito. Após seu desligamento, não atuou ou teve contrato com o escritório, iniciando suas atividades pessoais sem qualquer ligação com qualquer sócio deste escritório.
Como um escritório com mais de três décadas de atuação e com os nossos mais 230 advogados associados, esclarecemos que, enquanto esteve atuando nas atividades típicas de estágio, Antônio sempre foi supervisionado por um dos nossos advogados.
Não é de conhecimento deste escritório que o mesmo se apresentava como advogado para clientes ou terceiros, durante ou após o seu desligamento desta sociedade advocatícia.
Em relação a fatos posteriores aos mencionados, por não guardarem relação com este escritório, tampouco com os seus sócios, não nos cabe maiores esclarecimentos, visto a inexistência de qualquer ligação.