Lenildo Ferreira – jornalista e advogado
Luto, perplexidade e dor. O atentado monstruoso a uma creche em Blumenau, Santa Catarina, lança no ar um sentimento angustiante de perturbação. Todo ser minimamente humano pergunta-se como alguém pode ser tão monstruoso a ponto de trucidar crianças inocentes a golpes de machado.
Mas, em meio ao espanto, ao sofrimento e à cobertura amarga dos fatos e seus desdobramentos, a imprensa e a sociedade como um todo precisam fazer uma reflexão diante de uma constatação. Na mente diabólica de certos psicopatas terríveis como o monstro de Blumenau, a notoriedade dos seus atos horrendos é uma realização.
Indivíduos desse tipo sentem prazer não apenas no sofrimento atroz das suas vítimas, como na repercussão dos seus feitos medonhos e a fama imediata que conquistam. Sim, há seres ditos humanos que anseiam pela notoriedade, mesmo que a preço tão inacreditável.
Assim, quando alguém como o monstro de Blumenau tem suas fotos, vídeos e dados pessoais tomando conta da mídia, a realização dos seus atos atinge um auge de prazer.
E, ainda pior: a repercussão atiça a mente infame de outros indivíduos com propensão para esse tipo de barbaridade. Ou seja, ao ver a “conquista”, a transformação de um desconhecido em “celebridade” criminosa, o sujeito com o mesmo tipo de tendência sente-se estimulado a sair do mundo das ideias e partir para a prática.
Portanto, é urgente rever a política de cobertura desse tipo de caso para frustrar anseio tão demoníaco. A imprensa não pode se permitir ser estimulo e gatilho para monstros.
Vale aqui repetir o que já afirmamos em artigo passado: a responsabilidade jornalística está não apenas em saber distinguir como publicar uma notícia, mas, sobretudo, em definir claramente o que não publicar.