O nosso maior patrimônio é o compromisso com a nossa cultura e a nossa identidade cultural, que infelizmente está cada dia mais deteriorado, porque a maioria da população ainda não despertou para o seu valor!!
Aprendemos uns com os outros quando usamos o protagonismo da comunidade, que gera pertencimento e aprendizado coletivo. É a integração entre familiares e amigos de uma festa junina, que as praças, as calçadas e os passeios públicos ganham vida e criatividade, pois são essas pessoas que se preocupam com o bem-estar umas das outras.
É nas calçadas e no meio rural que se brinca a melhor festa junina, com autenticidade e amor aos valores culturais. São os papos nas calçadas, o dançar agarradinho ao som do forró pé de serra, os encontros e reencontros das famílias, que vivenciamos a melhor experiência espontânea, em meio aos abraços, sorrisos, às brincadeiras e à emoção que pulsa em nossos corações.
De nada adianta construir praças e espaços urbanos que não possam ser utilizados para a socialização, a integração e o lazer de pessoas da comunidade. Em pleno século 21, ainda existem gestores públicos que se enchem de poder para impedir o protagonismo da sua comunidade nos espaços urbanos. O São João é uma das maiores festas populares do País, uma das expressões culturais mais simbólicas do povo nordestino e ocupa um lugar bastante significativo na cultura das comunidades.
É a representação da sociedade organizada que zela pelo bem-estar das pessoas, inclusive pessoas idosas, crianças e “pessoa com deficiência” que precisam de acessibilidade para brincar com dignidade, uma festa junina, junto aos seus familiares.
Um gestor público comprometido com a sua comunidade não usurpa os direitos dos cidadãos, nem torna as praças públicas inóspitas ao bem-estar da comunidade. Pelo contrário, o gestor público que se preocupa com a população, estimula o seu protagonismo, respeita a cultura do lugar e valoriza as ações do seu povo, que promovem o diferencial turístico do município.
Trago o exemplo da expressão máxima dos festejos juninos, cuja característica é a valorização das famílias e dos amigos, que acontece desde 1942, em mais de 60 arraiais juninos pela cidade de Santa Luzia – PB, destacando a espontaneidade da população local em celebrar o evento à sua maneira, conforme seus costumes, saberes e valores.
O São João Tradição da “Rua de Baixo” em Santa Luzia – PB, destaca na sua programação de 2023, o passeio junino de carroças, o cortejo junino criativo, o café da tarde na calçada e o animadíssimo forró pé-de-serra dos arraiais das famílias, prestigiando os sanfoneiros e as quadrilhas juninas, os emboladores de coco, os poetas de cordel, o coco de roda e todas as expressões da cultura popular da comunidade.
Somando-se à simbologia do verdadeiro São João, as roupas juninas e a decoração dos arraiais, a emotividade decorrente da memória afetiva e as comidas típicas juninas, representam a essência de uma festa tradicional, com a expressiva movimentação de um público diferenciado, que busca os aspectos tradicionais da festa popular. São João das Famílias e dos Amigos de Santa Luzia – PB, recebeu o Troféu Waldemar Duarte, da ABRAJET/PB, concedido à SANTURA – Associação de Turismo e Cultura de Santa Luzia – PB, pela realização em 2019, do Melhor São João Tradição.
Na verdade, cada festa junina tem sua identidade, seu público e seu jeito de valorizar o que é efetivamente de valor para a comunidade. Há festas juninas que se adaptaram à contemporaneidade com produções culturais industrializadas e desterritorializadas, que não agregam valor ao destino turístico, fomentando o turismo de massa, priorizando os shows que descaracterizam as festas juninas, mas que proporcionam visibilidade e marketing político, atraem grande público e atendem aos propósitos político-eleitoreiros, sem reunir elementos da autenticidade e do tradicionalismo da cultura regional.
Cabe, portanto, à sociedade organizada, a iniciativa de defender e preservar a cultura e a identidade nordestina dos festejos juninos, assim como o baiano defende a música axé no carnaval da Bahia, o pernambucano defende o frevo, o amazonense defende a música toada do festival de Parintins.