"Violência: Você já foi roubado ou conhece alguém que foi vítima de roubo?” - Por Saulo Nunes



Num desses períodos eleitorais da vida, eu vi um candidato fazer a seguinte pergunta no seu material de propaganda na TV: “Você já foi roubado ou conhece alguém que foi vítima de roubo?” Claro que o telespectador respondeu a si mesmo que ‘sim’. Afinal, todos nós, brasileiros, ou já fomos vítimas ou conhecemos alguém que tenha passado por essa experiência desagradável.

Eu mesmo, pelos idos de 2007-2008, quando não me metia com armas de fogo ainda, fui – junto com uma namorada à época – abordado por cerca de dez criminosos nas proximidades do Campo do Treze, em Campina Grande. Roubaram o que puderam de mim, além de me espancarem também. Coincidentemente era mês de junho, madrugada, e o episódio violento acabou virando motivo de paródia, quando lembrávamos da situação: “Nos braços de uma galega quase morro um belo dia/ ainda me lembro do cenário de terror…” [risos mútuos].

Mas estamos em 2023. Vi hoje (28 de junho), no site Eurostat – espécie de ‘IBGE’ da União Europeia – que para cada 28 moradores da Suécia, um já foi vítima de roubo ou furto. Isso mesmo: Suécia, país que está entre os dez melhores índices de desenvolvimento humano do mundo. E veja que, aqui, não se trata de o sueco “conhecer alguém” que já foi roubado. A estatística se refere aos que já foram efetivamente vítimas dos crimes.

É como se em uma família com 28 membros – entre pais, filhos, tios, primos, cunhados – alguém do clã já tivesse passado pelos dissabores do crime. É como se você fosse a uma pizzaria com sete mesas espalhadas, quatro pessoas em cada mesa, e entre aqueles clientes alguém já tivesse um bem roubado ou furtado no período de um ano. Em plena Suécia!

De acordo com o Eurostat, aquele país com altíssima sensação de segurança registrou 3.558 delitos de roubo/furto para cada grupo de 100 mil habitantes, no ano de 2021. No mesmo período, a Dinamarca computou 2.677 crimes para grupo de 100 mil habitantes e a Finlândia, 2.392 casos por 100 mil habitantes.

É quase certo que, no Brasil, essa taxa seja bem maior. Ao menos pela lógica, sim. Mas a discussão aqui não é exatamente essa. O que pretendo sugerir como reflexão são dois aspectos principais:

1 – Suécia, Dinamarca, Finlândia e outros tantos países não citados têm crimes suficientes para construírem a sensação de (IN)segurança que quiserem. É sé selecionarem dois ou três delitos por dia e turbinarem nos meios midiáticos.

2 – Se algum político/candidato perguntar na Suécia se “Você já foi roubado ou conhece alguém que foi vítima de roubo?”, os telespectadores de lá dirão que sim.

Sem medo de errar.

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Saulo Nunes é formado em Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Ingressou via concurso público no sistema penitenciário do estado em 2009, onde permaneceu como policial penal até o ano de 2015. A partir daí, também após aprovação em concurso, passou a trabalhar como Investigador da Polícia Civil. É autor de Monte Santo: A casa de detenção de Campina Grande

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