Este artigo trata de uma análise sobre a importância que os artistas e empreendedores culturais dão aos territórios e à sociedade. Nos tempos atuais não podemos mais conceber os processos de desenvolvimento, apenas exportando a cultura de um lugar para outro.
A globalização provoca essa instabilidade cultural, ao mesmo tempo, em que exige do presente e do futuro a sustentabilidade social, cultural e ambiental.
Cada território carrega um saber social acumulado durante a sua trajetória, rico de crenças, valores, mitos e experiências passadas, conscientes ou inconscientes. Os territórios são espaços de vida, de pertencimento, de relações com o tempo, com a natureza, a arquitetura, o vestuário, os saberes e o empreendedorismo.
As sociedades não são construídas apenas de trocas econômicas, mas também de valores que não se troca, pois são intercambiáveis. Nesse contexto eu chamo atenção para a importância dos ativos culturais de um território, que são responsáveis pelo desenvolvimento econômico, tanto de pequenos negócios, quanto das regiões, atraindo turistas que buscam a experiência, resultante das atividades culturais autênticas, que agregam valor ao seu conhecimento ou ao seu lazer.
Muitos destinos turísticos não se dão conta, porque os turistas nunca mais retornam ao lugar visitado. Isso acontece porque os gestores públicos, a iniciativa privada e a sociedade, que recebem os turistas, não têm a consciência das perdas contínuas e nem avalia essa realidade invisível, que não aparece aos olhos comuns.
São os investimentos, de decisões mal planejadas, que muitas vezes fracassam e queimam o destino turístico, por não selecionar atrativos culturais, clientes, receitas e resultados que geram impacto positivo, no território. O momento da verdade em que se ganha ou se perde, deve ser prioridade da estratégia dos negócios e da gestão pública municipal.
É inegável que um projeto sem preservar as características locais, em pouco tempo, pode acarretar sua destruição parcial ou total, sem oferecer os efeitos esperados. Tudo acontece como se a incompetência fosse programada para manter os artistas locais e regionais, fora da sua história e da sua cultura.
A meta deveria ser a do respeito aos valores culturais e aos indivíduos, do reconhecimento desses valores e de uma convivência valiosa e memorável com o aprendizado, a partir das experiências dos turistas e as mudanças no comportamento após a viagem.
A importação de culturas pode destruir as capacidades locais de inovação e desencadear a desapropriação de seus modos de vida e suas identidades, sua capacidade de criar o próprio futuro, com o diferencial simbólico e a singularidade cultural dos territórios.
Em cada região, a preservação da identidade é o capital que assegura a eficácia de uma memória coletiva, de saber cumulativo. Sem a gestão da identidade cultural, ela pode desaparecer ou levar a fracassos irreversíveis, deixando espaço para a cultura industrializada e o simplismo exagerado, que é o uso da cópia do que é do outro.
A vida de uma sociedade em um território criativo, consiste em seu projeto social e cultural, cuja ausência significa o declínio, pela sua destruição e desvalorização. O território criativo é um indutor cultural, um lugar coletivo e singular, para o processo de aprendizagem e interiorização de normas e valores, que caracterizam um determinado meio social.
A maior parte dos projetos concebidos fracassam quando se faz recorte de realidades, excluindo delas a cultura dos saberes locais e enaltecendo o oportunismo, as migrações desterritorializadas, o que se torna um modelo destrutivo das forças de criação locais.
Um grande desafio para que os territórios se tornem criativos é incorporar insumos tais como, criatividade, arte, cultura, entretenimento e inovação. Territórios criativos são espaços para a troca, a construção coletiva e a produção criativa, capaz de transformar o contexto socioeconômico atual, com base na valorização e no reconhecimento da cultura local.
É essencial aprender a pensar políticas públicas da cultura, de forma transversal, alinhadas com as pastas do turismo, da educação e outras, para melhor utilização desta riqueza, que é a cultura do lugar.
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"Regina Amorim é formada em Economia pela UFPB, Especialização em Gestão e Marketing do Turismo pela UNB - Universidade de Brasília e Mestrado em Visão Territorial para o Desenvolvimento Sustentável, pela Universidade de Valência - Espanha e Universidade Corporativa SEBRAE. Atualmente é Gestora de Turismo e Economia Criativa do SEBRAE/PB".