Félix em dois momentos: a política e a guerra |
Por Lenildo Ferreira
Há exatos setenta anos, após duas semanas de luta pela vida, morria em Campina Grande o jovem vereador campinense Félix de Souza Araújo, aos 30 anos. Natural de Cabaceiras, nascido em 22/12/1922, Félix exercia seu primeiro mandato na Câmara Municipal e investigava denúncias de irregularidades nas contas do prefeito Plínio Lemos.
No dia 13 de julho daquele ano fatídico de 1953, o parlamentar foi abordado na esquina da Maciel Pinheiro por João Alves de Brito, conhecido por João Madeira, funcionário da prefeitura tido como uma espécie de capanga de Plínio. A intenção era tomar do vereador uma pasta com documentos referentes à investigação.
Félix estava prestes a entrar em um táxi quando se deparou com João Madeira, e não aceitou entregar os papeis. Houve uma discussão, confronto físico, e o vereador, pequeno e franzino diante do oponente corpulento, chegou a sacar um revólver que carregava por sugestão de amigos e feriu o agressor na perna.
João Madeira, porém, dominou Félix e acertou um disparo nas costas do jovem, que foi socorrido e ficou internado até o dia 27 de julho, quando morreu. A cidade, que acompanhava apreensiva o quadro de saúde do vereador mais votado no último pleito, foi tomada pelo luto.
“As pessoas choravam pelas ruas, não acreditando que Félix havia morrido”, contam os antigos. “Houve uma comoção popular. A cidade se envolveu, chorou, parou. Não se falava de outra coisa. Mais da metade da população compareceu ao enterro”, relatou o irmão de Félix, o ex-vereador Mário Araújo, que morreu em 2015.
ARQUIVO MORTO
Desde o atentado, políticos e lideranças locais atribuíram a Plínio Lemos a autoria intelectual do crime. Uma das vozes mais veementes a lançar estas denúncias foi a do então deputado federal Elpídio de Almeida, antecessor de Plínio na prefeitura e amigo de Félix.
Em jornais de todo o país, Elpídio divulgou verdadeiros libelos de acusação contra o chefe do executivo, que, no entanto, sempre negou qualquer responsabilidade na morte do vereador.
Todavia, o processo criminal foi prejudicado por um ocorrido que, para muitos, representou uma verdadeira queima de arquivo. Levado para a capital, justamente para evitar linchamento diante da revolta da população, o assassino de Félix foi trazido para Campina a fim de prestar depoimento e, em seguida, estranhamente deixado na cadeia sem qualquer reforço da segurança.
Não deu outra. Presos invadiram a cela e trucidaram João Madeira. A morte do executor de Félix colaborou para que jamais houve responsabilização criminal de possíveis idealizadores do crime.
VIVO EM CAMPINA GRANDE
No ano passado, Campina Grande celebrou o centenário de nascimento de Félix Araújo. Hoje, setenta anos após sua morte prematura, a memória do jovem e brilhante vereador permanece muito viva na cidade que ele tanto amou e pela qual, pode-se dizer, foi muito amado.
Além de nomear logradouros públicos, escola, creche, a biblioteca municipal e ser patrono da Câmara de Vereadores, Félix Araújo é um personagem de destaque na história de Campina Grande, tendo em seu legado um testemunho de honra que serve de lição para todos.
Além de líder político com perspectivas brilhantes de futuro, Félix foi jornalista, escritor, poeta, teve grande destaque na Rádio Borborema, estava cursando Direito e foi soldado voluntário na segunda guerra mundial.
Viveu, em pouco mais de 30 anos, o que muitos não viveriam em muitas vidas. Não por acaso, mesmo setenta anos após sua morte, continua muito vivo em Campina Grande.