Cordel e Economia Criativa foi tema do painel de Lançamento da Festa da Literatura de Cordel, em Fortaleza – CE, do qual fui uma das convidadas para falar sobre as características do cordel e suas relações com o desenvolvimento regional e setorial.
A literatura de cordel evidencia relevantes contribuições nos territórios dos quais os cordelistas, que são atores culturais, traduzem a vida e os acontecimentos do cotidiano, em versos. É um importante meio de expressão popular com valor informativo, original, poético e histórico.
O cordel inspira e reflete os anseios, os sonhos e esperanças do seu povo. Por estar ligado ao Nordeste brasileiro, expressões típicas dessa região, bem como outras características regionais, são destacadas pelos poetas.
A cultura de uma comunidade diz respeito às atitudes coletivas de todos aqueles que ali vivem. Por isso todos têm um papel importante na preservação da cultura autêntica que representa uma comunidade. A cultura é um elemento poderoso para a economia criativa e para agregar valor aos produtos e serviços.
Os cordelistas têm nos ensinado a usar o conhecimento de forma criativa, a valorizar a cultura nordestina, através da popularidade dos folhetos, com narrativa lúdica, irônica e bem-humorada, sobre fatos do cotidiano, mas também sobre acontecimentos históricos.
Os empresários do turismo, da moda, do design, da publicidade, da gastronomia, precisam se conectar com os cordelistas de sua região, para desenvolver ideias incríveis e valiosas de negócios inovadores, diferentes, competitivos, que movimentam as economias do mundo e fazem com que a nossa vida seja mais dinâmica, criativa e inovadora.
Ideias sempre parecem ser fruto da inspiração e na literatura de cordel, elas são a principal fonte de criação da cultura popular no Brasil, principalmente na região Nordeste, onde há um acervo histórico de folhetos, espalhados em museus, bancas e livrarias, o que nos leva a repensar o seu uso de forma sustentável, na educação e nos atuais negócios criativos.
É fundamental elaborar políticas públicas, para que o sistema educacional atue integrado às práticas e às atividades culturais de cada região. Despertar nos alunos e nos jovens a valorização da sua identidade e o sentimento de pertença para com a cultura popular, local e regional. Por outro lado, os poetas precisam modernizar o cordel, abordando temas que chamem a atenção da atual juventude.
Entre os propulsores da cultura popular destacamos Leandro Gomes de Barros (1865-1918), filho de Pombal – PB, considerado o primeiro escritor brasileiro de literatura de cordel contemporânea.
O cordelista José Camelo, de Guarabira – PB (1885-1964), foi quem escreveu o cordel Pavão Misterioso, que o consagrou um dos maiores clássicos deste gênero literário e que inspirou a trilha sonora da novela Saramandaia (2013).
Abraão Batista (1935) é cearense, professor universitário aposentado, poeta, xilógrafo, gravador, escultor e ceramista que representou o Brasil no Prêmio Literário Guerra Junqueiro, em Freixo de Espada à Cinta – Portugal, 2021.
A poesia do cearense, Patativa do Assaré (1909-2002), faz ecoar como uma voz que destaca os contrastes entre a vida do poeta, o sertão e a cidade. Seus poemas nascem de situações do cotidiano, com seus saberes e sabores, seus encantos e desencantos, em versos populares tradicionais que alimentam a alma e a memória afetiva. Teve projeção por todo o Brasil com a gravação de "Triste Partida" (1964), cantada por Luiz Gonzaga.
A criatividade é a essência da invenção, um recurso inesgotável. O cordel é resultado da criatividade na veia poética do nordestino, através do seu conhecimento, sua imaginação e atitude. A imaginação é a capacidade de criar algo, uma fonte renovável e infinita de criação. O conhecimento é o combustível para a sua imaginação e suas ideias criativas. A atitude é a faísca que ativa a sua criatividade.
Em cada cordel há um sentimento de riqueza do cotidiano, do lugar de pertencimento e do imaginário simbólico. Cordel é arte que inspira outros artistas, seja o violeiro ou repentista. A cultura importada não gera valor nem identidade. O que diferencia e caracteriza os territórios é a cultura local e regional.
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