Comida para pacientes vira lucro para corruptos, joias para grã-finos e silêncio para cúmplices


Por Lenildo Ferreira

O sofrimento de quem padece continua sendo terreno fértil para a corrupção no Brasil. A dor dos que mais precisam alimenta a ganância dos insaciáveis. E enquanto ladrões de meio de rua povoam prisões, os gatunos de roupas de grife e ostentação desenfreada nas redes sociais são celebrados e seus nomes sequer podem ser mencionados publicamente – embora corram à boca miúda.

Junto com o release informando a Operação Marasmo, deflagrada nesta sexta-feira apurando possíveis falcatruas da ordem de R$8 milhões em contratos de aquisição de quentinhas no Hospital de Clínicas, a Polícia Federal divulgou imagens que mostram relógios caros e muito dinheiro apreendidos.

O butim, no entanto, é apenas uma parcela do montante oriundo do esquema. O que deveria ser comida para alimentar pacientes pobres se converte, no toque de midas da patifaria, em luxo para ricos, gente doente da alma.

Enquanto os detalhes das investigações não aparecem, os corredores da cidade relatam que o grosso do esquema vai parar nas contas de excelências e uma parcela até tinha como rubrica comprar boa vontade de formadores de opinião.

É assim. Nos tempos do neocoronelismo moderno, o rifle e o chicote para matar e espancar deram lugar ao dinheiro para comprar consciências ávidas por se venderem. Pagou, calou.

Logo, como há muito interesse em ocultar os fatos e maquiar a realidade, o empreendimento virou negócio que está formando marajás até no interior árido dessa Paraíba pobre.

E como dinheiro não dá em árvore, a conta é paga por quem menos tem e mais sofre.

Quando o silêncio dá lucro, os gritos dos que padecem são emudecidos.

Ah! E se recusar a fazer parte de tal nível de bandidagem não é se pretender santarrão, mas apenas e tão somente não fazer pacto com o diabo - ou seus prepostos.

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