Lenildo Ferreira
Qualquer observador razoavelmente atento saberá que a sexta-feira de sessão extraordinária na Câmara Municipal marcou uma derrota muito dura para o prefeito Bruno Cunha Lima na queda de braço totalmente desnecessária e equivocada que travou com o poder legislativo ao tentar fazer valer suas determinações mesmo tendo apenas a minoria. Em dez fatos, vamos tentar sintetizar o quadro.
NARRATIVA DESCONTRUÍDA
01) A Lei Orçamentária Anual foi finalmente aprovada, desmontando parte substancial da frágil narrativa que o governo vinha desesperadamente empregando em balelas como alegada inviabilidade do pagamento de salários, suspensão de obras e serviços essenciais.
SEM FORÇA
02) As emendas impositivas foram aprovadas, como queriam tanto os vereadores de oposição quanto os de situação, sem ceder à redução que o prefeito exigia.
PREJUÍZO
03) Aliás, aqui entra um terceiro ponto. A base de Bruno assinalou emendas de 0.70% das receitas correntes líquidas, como queria o chefe do executivo. Mas, a oposição apresentou suas emendas em 1.2% e, agora, os aliados do prefeito já estão profundamente desconfortáveis com a diferença.
ENCRUZILHADA
04) Se Bruno judicializar contra as emendas impositivas, enfrentará uma indisposição profunda com o legislativo, colocará os ainda aliados em severo constrangimento e dará munição para que os adversários explorem as razões do gesto cobrando que o gestor explique por que só então terá recorrido ao recurso.
INÉPCIA
05) A sessão serviu para evidenciar – de novo – a completa falta de articulação de Bruno, sua inaptidão e incapacidade indisfarçável de liderança. Sem maioria para tratorar a oposição e impor suas “verdades” absolutas, o prefeito é apenas e tão somente uma sombra turva do todo-poderoso alcaide que parece enxergar no espelho.
INACREDITÁVEL
06) O dia também consagrou outro elemento óbvio: o governo não domina minimamente a capacidade de manejar elementos básicos da administração pública, inclusive o direito mais elementar. Ao tentar modificar uma Lei Orgânica mediante projeto de lei ordinária, o executivo virou motivo de mofa entre opositores e de vexame para os aliados.
O INIMIGO MORA AO LADO
07) Um dos pontos mais duros e graves na derrota de hoje de Bruno foram as feridas, provavelmente insaráveis, abertas na relação entre aliados. O ambiente de crise interna, de conflito entre os vereadores da base, já evidenciado desde o início do mandato do prefeito, as crises seguidas de liderança, a fratura advinda do G5 e os choques entre “colegas” governistas chegou a um ponto de ebulição insuportável. E a culpa não é dos líderes na Câmara, mas do líder dos líderes.
POR UM FIO
08) Numa semana em que Bruno Cunha Lima virou manchete nacional por uma das mais estapafúrdias medidas já vistas em Campina (o famigerado decreto do Carnaval), as crises de relações entre secretários do prefeito, boa parte dos quais mal se suportam, também chegaram a um ponto extremo.
ÔNUS E BÔNUS
09) A péssima saturação entre aliados dentro da Câmara e dentro da estrutura do governo vai de mal a pior por uma percepção cada vez mais forte entre os ainda governistas: os raros sucessos da gestão precisam ser forçadamente colocados como mérito de Bruno, enquanto os constantes tropeços sempre são culpa de terceiros. Essa política vem, como todos os que cercam o prefeito sabem, do próprio chefe do executivo. E esta semana a “regra” fez muita gente perder o sono.
APENAS O COMEÇO
10) O desempenho completamente atabalhoado da gestão mostrou para aliados e adversários que os problemas do governo na relação com o legislativo estão apenas começando. Para quem durante quase três anos teve ampla maioria mas criou por conta própria os principais problemas que enfrentou, o governo Bruno, profundo refratário à mera crítica, agora tem oposição.