"E se a Polícia Civil da Paraíba atuasse na Espanha?" - Leia o artigo de Saulo Nunes


Sim, o artifício da comparação é inevitável – e necessário – quando se quer classificar algo como ‘bom’ ou ‘ruim’, ‘bonito’ ou ‘feio’, ‘melhor’ ou ‘pior’. Um não existe sem o outro. Simples assim. E é com dados comparativos que eu convido você, leitor(a), para a reflexão de hoje: E se a Polícia Civil da Paraíba investigasse os homicídios da Espanha?

Calma, que eu explico. Em meados de dezembro/2023, o renomado Instituto Sou da Paz, de São Paulo, publicou a 6ª edição do relatório “Onde Mora a Impunidade?”, estudo que se debruça sobre os índices de criminalidade/violência no Brasil inteiro. O órgão reúne informações das secretarias de segurança pública, do Ministério Público e do Poder Judiciário de cada estado.

De acordo com o documento, entre os nove estados do Nordeste, a Paraíba é quem mais elucida homicídios. O percentual do ano 2021 (o mais recente na pesquisa do Sou da Paz) foi de 36% de casos elucidados. O menor desempenho no Nordeste ficou com o Rio Grande do Norte, que esclareceu apenas 9% dos crimes no período analisado.

Na Paraíba, foram registrados 984 assassinatos no ano de 2021. Se a Polícia Civil elucidou 36% deles, então temos 351 crimes daquele ano devidamente esclarecidos. Isso é pouco ou muito? Ruim ou bom?

Aqui, entra a tese do ‘depende’. Em 2022, a Espanha – famoso país da charmosa Europa – registrou  325 crimes de homicídio. Os dados estão na página countryeconomy.com, que exibe informações criminais e de outras esferas, em praticamente todos os países do globo.

Ainda no campo da comparação, a Espanha tem quase 48 milhões de habitantes; a Paraíba, em torno de quatro milhões. Isso nos sugere que o efetivo policial espanhol é bem maior do que o da nossa Polícia Civil paraibana.

O fato é que, numericamente falando, no ano de 2021 a nossa PCPB elucidou “100%” dos crimes de homicídio que aconteceram na Espanha em 2022. Isso é pouco ou muito? Eu não encontrei informações sobre o índice de elucidação desses crimes pela polícia espanhola.

Mas digo sem medo de errar: se a Paraíba registrar, no decorrer do ano 2024, ‘meros’ 325 assassinatos, correremos sérios [bons] riscos de emplacar 100% de elucidação desse tipo de crime (o mais grave que se possa cometer, é bom frisar). Isso é bom ou ruim?

Ainda mais sabendo que, nos países desenvolvidos (como a Espanha), a maioria dos homicídios não é protagonizada por facções criminosas disputando territórios para explorar o tráfico de entorpecentes. No chamado ‘Primeiro Mundo’, as mortes por assassinato se dão no ambiente doméstico/familiar ou na “briga de vizinhos”, circunstâncias que facilitam muito o esclarecimento do caso.

Diante do exposto, é verídico dizer, sim, que a Paraíba tem uma polícia investigativa de primeiro mundo.

E quer saber mais? Os dados de 2023 (ainda não divulgados) apontam para um percentual ainda maior de elucidação em solo paraibano.

Aguardemos.

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