Um dos maiores escândalos dos últimos anos na Paraíba foi desvendado pela Polícia Civil e o Gaeco, do Ministério Público, investigação que resultou na prisão do padre Egídio e duas funcionárias do Hospital Padre Zé, de João Pessoa. Detalhes dessa história já foram amplamente disseminados pela imprensa [nacional, inclusive], mas basta dizer que os indícios apontam um esquema milionário de desvios de dinheiro da instituição filantrópica. Misericórdia…
Não vou entrar no mérito da questão porque não cabe a mim. O texto de hoje é apenas uma viagem daquelas em que nem mesmo o transcorrer de cinco séculos (ou mais) se esquece de deixar escapar uma pitada de ironia. E, por tabela, oferece-nos no mínimo alguns minutos de reflexão.
Eu me refiro ao que a História nos conta sobre o surgimento das prisões. De acordo com inúmeros autores, a prisão/cárcere/cadeia/ que a gente conhece hoje foi inspirada numa medida implantada pela Igreja Católica, nos idos da Idade Média. Quando padres e sacerdotes ‘pisavam na bola’ em suas obrigações, eram conduzidos a compartimentos razoavelmente parecidos com ‘celas’, para refletirem sobre o que fizeram de errado. Pagavam, portanto, sua penitência, dando origem ao que hoje conhecemos por ‘penitenciárias’.
Àquela época, a ideia (diz-se) era fazer com que os infratores da igreja passassem por uma espécie de ‘ressocialização’. O remédio era rezar/orar sem moderação, e a enfermaria era a clausura. Essas eram as técnicas aplicadas para fazer os pecadores/infratores buscarem o arrependimento e, assim, saírem de lá novas pessoas.
Observadores do mundo que são, os ingleses logo trataram de copiar o antídoto e criar a House of Correction, apontada como a primeira prisão [fora da igreja] de que se tem notícia. A unidade prisional teria sido inaugurada no ano de 1550, em Londres.
Oração e penitência
Realmente, quando dizem que o nosso sistema prisional carrega aspectos do tempo da Idade Média, não é exagero. Ainda hoje, há quem enxergue o interior das muralhas como “lugar para refletir e se arrepender do que fez”. Eu concordo e discordo disso, a depender dos rumos da discussão.
Uma das lembranças mais intrigantes que a memória me reserva são as rodas de orações que os presos da então Casa de Detenção do Monte Santo faziam, às 18h em ponto, em cada cela daquela unidade prisional. Todo santo dia.
Arrependimento são ‘outros 500’…
Nesta terça-feira, 30 de janeiro, vi a informação de que a justiça da Paraíba manteve a prisão do padre Egídio e das ex-diretoras do hospital. O religioso estaria, por meio de seus advogados, tentando sair da ‘penitência’ que carrega em alguma cela para infratores longe das dependências da igreja.
Não quero, não posso e não vou julgar o padre Egídio e demais envolvidos no escândalo, antes de a justiça lançar seu veredicto. Mas não tenho fé suficiente para acreditar que, em sendo mesmo o padre o ‘chefe da organização’, sairá arrependimento sincero daquela alma.
Por Deus, eu gostaria de estar errado.
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Saulo Nunes é jornalista, escritor e policial civil