Lenildo Ferreira
Quem acompanha a atual (e irritante) novela sobre o desenlace entre Bruno Cunha Lima e Romero Rodrigues certamente não é capaz de esquecer aquele outro folhetim, de quatro anos atrás e igualmente insuportável, quando durante meses a pergunta insistente em Campina Grande era quem seria o escolhido do então prefeito para sua sucessão.
Já então, todos sabiam que a verdadeira eleição de 2020 tinha somente dois candidatos e um eleitor. E os postulantes, Bruno e Tovar Correia Lima, de tudo fizeram para receber o mandato das mãos do eleitor-único, Romero, de sorte que a eleição propriamente dita seria, como foi, meramente confirmatória e plebiscitária.
Sendo Cunha Lima, Bruno levou vantagem sobre Tovar, que é somente Lima, e a força do mérito familiar, o sangue azul, o fez ser o eleito de Romero, que, no entanto, preferia o preterido, meio-parente apenas.
O então prefeito deu o mandato ao sucessor e, uma vez sucedido, viu-se cumprir o aforisma, em ordem trocada, “rei posto, rei morto”. Mal passado o turno único do pleito homologatório, as ligações entre Romero e Bruno se esvaíram rapidamente.
Como, porém, o tempo passa rápido – sobretudo quando se está no plano irreal do poder –, lá se vão quatro anos e uma nova eleição bate à porta.
E o atual prefeito, poucos dias atrás, contou à imprensa que telefonaria para o antecessor a fim de colocar a conversa em dia e, claro, tentar evitar que ele pretenda virar sucessor.
Se realmente ligou, ninguém sabe. Mas, pouco depois do anúncio público de telefonema privado, o deputado estadual Tovar, reeditando o triângulo de 2020, entrou em cena e, sendo tucano, abriu o bico para tecer críticas ainda moderadas ao governo conturbado de Bruno.
Ninguém sabe, repita-se, se Bruno ligou e se Romero atendeu, mas o prefeito certamente entendeu a ligação entre sua fala e a linha cruzada com Tovar. A mensagem é clara como um recado escrito e lido para ser bem dado.
Faz tempo que é tão simples e barato dar um telefonema, mas Bruno deixou acabar os créditos e não o fez antes. A linha com Romero ficou muda. Agora, parece ter sido cortada de vez.
E, como dizia a velhíssima canção de outro trio, o Parada Dura, “Eu quero que risque o meu nome da sua agenda / Esqueça o meu telefone, não me ligue mais / (...) Por isso é que decidi / O meu telefone cortar / Você vai discar várias vezes / Telefone mudo não pode chamar”.