Há lugares que, mais do que meros espaços físicos, tornam-se cenários vivos de nossas memórias mais caras. Entre esses santuários da lembrança, a Livraria Pedrosa ocupa um lugar especial e aquecido no meu coração, não apenas como uma casa de livros, mas como um lar de sonhos, esperanças e descobertas. Este ano de 2024, enquanto a brisa da saudade sussurra através das décadas, celebramos 71 anos desde que a Livraria Pedrosa abriu suas portas pela primeira vez, sob o nobre lema "Faça do livro o seu melhor amigo". A mesma brisa nos lembra, com uma doçura melancólica, os 30 anos sem o Sr. José Pedrosa, um pernambucano de nascimento, cuja visão e dedicação não apenas cultivaram um espaço, mas semearam um verdadeiro legado de amor pelos livros na cidade ¨única entre muitas¨.
Recordo-me, com um calor nostálgico que aquece a alma, das inúmeras vezes em que, de mãos dadas com meu pai, adentrava aquele templo de palavras. Era mais do que um simples ato de comprar; era um ritual sagrado de cumplicidade e amor. A Livraria Pedrosa, com seus corredores com andares e andares de livros empilhados em prateleiras, parecia abraçar a eternidade, era um terreno de aventura e descoberta. A cada visita, um universo se desdobrava à minha frente, guiado pelas mãos sábias e gentis do Sr. José Pedrosa, ou de membros de sua equipe, que mais pareciam guardiões de outros mundos.
Um dos momentos mais vívidos e preciosos que guardo dessas jornadas literárias aconteceu numa manhã fria, mas banhada por um sol que parecia brincar entre as folhas das árvores da Praça da Bandeira em Campina Grande, próximo do CIC-DAMAS que foi o Colégio onde estudei por 14 anos e era próximo da Livraria. Meu pai, Dr. Jairo Sales, com seu bigode grosso e vermelho e um sorriso que sempre me inspirava confiança e alegria, disse-me mais ou menos assim: "Meu filho (...) hoje eu permitirei que você compre o livro que quiser, mas o escolha com sabedoria, que eu pago". Palavras simples, mas carregadas de significado, abrindo as portas da imaginação e do conhecimento sem limites. E naquele dia, minha escolha recaiu sobre uma compacta Gramática da Língua Portuguesa. Mais do que um livro, foi a chave para um mundo novo de palavras e expressões, um símbolo do amor e do incentivo incondicional do meu pai aos estudos de seus filhos.
Hoje, enquanto a saudade ecoa pelas paredes da memória, é impossível não sentir um profundo agradecimento ao Sr. José Pedrosa e à sua Livraria Pedrosa. O lema "Faça do livro o seu melhor amigo" ressoa não apenas como um conselho, mas como uma verdade vivida e respirada dentro daqueles corredores mágicos. A Livraria Pedrosa foi, para muitos de nós campinenses, o berço de uma amizade eterna com os livros, uma porta para a eternidade onde cada página virada é um passo em uma jornada sem fim.
Embora os anos tenham passado e a ausência do Sr. José Pedrosa seja uma lacuna que jamais será preenchida, seu espírito e sua paixão pelos livros continuam vivos em cada um de nós que tivemos a sorte de cruzar o limiar da Livraria Pedrosa. Seus ensinamentos e seu legado permanecem vivas na minha memória, um farol de luz na névoa do esquecimento, que deveria guiar a juventude da Cidade Universitária de Campina Grande, a descobrir o mesmo amor e alegria que encontramos entre as páginas de um livro físico.
Portanto, ao relembrar esses marcos de 2024 — 71 anos da inauguração da Livraria Pedrosa e 30 anos sem o Sr. José Pedrosa — faço-o não com tristeza, mas com uma profunda gratidão e a alegria de ter sido parte dessa história. Que as lembranças daqueles dias ensolarados e frios em Campina Grande, daqueles passeios com meu pai, e daquela Gramática escolhida com tanto carinho, continuem a inspirar em nós o amor pelos livros. E que possamos sempre nos lembrar do lema que nos foi tão carinhosamente ensinado: ¨Faça do livro o seu melhor amigo.¨
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Uirá Coury é médico e integrante do Instituto Histórico de Campina Grande