Por onde andam os serial killers? - Por Saulo Nunes


Estou tentando concluir as quase 500 páginas de um livro intitulado “Serial Killers – Anatomia do Mal”, que versa sobre as histórias reais de centenas de assassinos em série em vários países do mundo. São relatos chocantes, que dão um nó na cabeça de quem ousa querer entender a mente humana.

E durante a leitura, me veio uma inquietação: por onde andam esses criminosos? Por que não temos mais notícias de assassinos com esse tipo de perfil? Essa categoria de homicida deixou de existir ou é a polícia que não consegue prendê-los?

Só para contextualizar, algumas teorias classificam como serial killer o sujeito que comete “três ou mais assassinatos, em locais diferentes e separados por um período de calmaria entre os casos”. Some-se a isso o fato de os crimes terem uma motivação em comum para todos eles e, no geral, as vítimas apresentarem padrões semelhantes de costumes e/ou aparência.

Até onde pesquisei, a última vez que o Brasil se deparou com algo desse tipo foi no ano de 2014, quando o vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha foi preso pela Polícia Civil de Goiás, investigado por mais de 30 assassinatos entre 2011 e 2014, naquele estado. Ele já foi condenado a mais de 700 anos de prisão por esses delitos. 

Os alvos de Tiago eram prostitutas, moradores de rua e homossexuais. Ele os matava com tiros, facadas ou estrangulamento, a depender de cada situação. Motivação aparente? Nenhuma. Apenas o desejo de matar.

Antes do “Maníaco de Goiânia”, como ficou conhecido o vigilante, podemos mencionar figuras como Francisco das Chagas Rodrigues de Brito, investigado por 42 assassinatos de crianças nos estados do Maranhão e Pará, entre os anos de 1989 e 2004; e o “Maníaco do Parque”, preso em 1998 pelo estupro e assassinato de nove mulheres em São Paulo.

De Tiago Henrique para frente, não vimos mais casos de criminosos com esse perfil. A pergunta é: por quê?

Investigação

Sim, eu sou suspeito em querer “puxar uma sardinha”, mas eu não consigo enxergar outra explicação para isso, a não ser os investimentos nas polícias – em especial nas que tratam de investigar crimes – e as mudanças na sociedade de um modo geral. Uma pesquisa mais avançada sobre o assunto aqui proposto sugere que, quanto mais voltamos nos anos, mais serial kellers encontraremos na crônica policial do mundo inteiro. No sentido inverso da cronologia, esse tipo de assassino vai sumindo do mapa, na proporção em que a sociedade se faz mais moderna.

Mas por que isso? Você acha que, de repente, a espécie humana deixou de ‘fabricar’ psicopatas dessa estirpe? Ou o avanço tecnológico da sociedade – inclusive nas polícias – detecta mais cedo esses personagens sanguinários da vida real, evitando que eles acumulem cadáveres pelas ruas onde andam?

Por ora (posso mudar de opinião se for convencido a isso), prefiro apostar na segunda hipótese. Hoje, com uma câmera em cada esquina, é muito mais fácil identificar, disseminar a identificação e prender um assassino com esse modus operandi. Nesses casos, a própria população se mobiliza na captura do facínora, aumentando as chances de prendê-lo.

O fato é que esse tipo de criminoso parece ser algo raro por nossas terras. Faz 15 anos que eu trabalho na segurança pública e nunca ouvi falar de casos parecidos na Paraíba, por exemplo, durante esse período. Eles nunca existiram ou foram presos logo e não tiveram tempo de ‘colecionar troféus’? 

Um ‘quase caso’

Em 2017, Rogerio Souza de Andrade, 19 anos, saiu de sua casa pela madrugada, com um facão, disposto a matar moradores de rua em Campina Grande. Sua primeira vítima fatal estava dormindo na calçada de um lava-jato no bairro do Santo Antônio, quando sofreu os golpes. 

A segunda pessoa a morrer pelas mãos do assassino foi uma mulher que dormia na frente de uma casa de eventos, nas proximidades do Açude Velho. Um terceiro mendigo ainda foi atacado por Rogério, mas conseguiu reagir e escapar da morte.

À época, eu era lotado na Delegacia de Homicídios, e a nossa equipe prendeu o matador em flagrante, poucas horas após os crimes, ainda com o facão em mãos. Rogério não se enquadra, exatamente, nos conceitos de um serial killer – “três ou mais assassinatos, em locais diferentes e separados por um período de calmaria entre os casos” –, mas, se não tivesse sido preso, poderia estar caminhando para isso. 

Ele cumpre pena no presídio PB-1, em João Pessoa. 

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Saulo Nunes é jornalista, escritor e policial civil

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