Em tempos remotos gerenciava eu uma empresa e num determinado momento, aproximando-se o final de ano tivemos algumas dificuldades na execução dos nossos serviços por questões externas de mercado, ou seja, o problema não estava em nós, na empresa, mas em fatores externos do qual dependíamos muito.
Certo dia o telefone da empresa tocou e o funcionário que atendeu logo me passou informando que era o proprietário para falar comigo e que parecia chateado, quando me passaram a ligação passei a ouvir uma reclamação um tanto quanto ríspida e meio que insinuada de que a situação seria fruto de minha incompetência.
Ouvi calado e encerramos a ligação sem nenhuma palavra de minha parte, entretanto, ao desligar o telefone, me debrucei sobre o computador e lhe escrevi um texto que começava exatamente assim; “do outro lado da mesa”, abordando a realidade dos fatos de quem estava na outra ponta, isto é, no lado oposto da mesa de quem dava as ordens, de quem determinava as ações, de quem tinha o poder de mando, de quem pensava, o lado de quem executa as tarefas, de quem recebe as ordens, de quem tem que administrar as circunstâncias.
É a infinda e permanente relação entre teoria e prática, onde a teoria é sempre eficaz, mas é a prática que torna o processo eficiente. Para concluir esta introdução, no outro dia recebi uma ligação logo cedo do dono da empresa e pensei, estou demitido, mas para minha surpresa, recebi um elogio os parabéns e uma fala inusitada, “nunca mais lhe indago e ou questiono seus resultados”.
Por que esta história?
Porque ela reflete uma realidade vivida por milhares de pessoas todos os dias, isto é, a realidade de trabalhadores que diariamente em diferentes lugares da cidade, profissões diversas, atividades variadas, situações distintas, que para produzirem vida e sustento para a mesma e para si próprios, enfrentam problemas e ou dificuldades gerados por quem vive o lado da mesa que ordena, que estabelece, que determina, que planeja.
Porque estes, cidadãos desta cidade é que lidam com os problemas constantes e ou permanentes, são eles que usam o transporte público, que andam pelas ruas e calçadas, passam e ou frequentam as praças, enfrentam o trânsito nos seus horários caóticos, entre outros aspectos, são eles que conhecem de perto as dificuldades, são eles que estão na outra ponta do processo, isto é, do lado de cá da mesa.
E a experiência vivida por estes parece passar ao largo da ideia de quem monta a estrutura da cidade, de quem planeja e ordena as coisas acontecerem.
Por exemplo, é difícil compreender que se alargue calçadas estreitando as ruas, quando o fluxo maior é o de veículos e não de pedestres como temos no centro da cidade, a ideia de se fazer concertos em ruas extremamente movimentadas à luz do dia congestionando o trânsito, as vezes obrigando carros e ônibus mudarem a rota, e falo de serviços não emergenciais e ou urgentes, que poderiam facilmente serem realizados à noite, finais de semana pós horário de comércio ou mesmo em dias feriados.
Como justificar a poda de árvores em avenidas em pleno horário comercial, a intransigência de fiscais e outros funcionários da Secretária de Obras que parece ser completos ignorantes ao processo de uma construção, por muitas vezes criando obstáculos, dificuldades com exigências que a teoria diz haver necessidade, mas a prática prova que não e o bom senso seria o suficiente para a solução, e não estamos falando em descumprimento da lei, das normas do código civil do município, que mesmo aí o bom senso é cabível, aceitável e conviniente em muitos casos.
Como entender que em uma praça pública cercada por restaurantes, se instale uma lixeira que acumule o lixo da redondeza e mais os que são trazidos por garis de outros setores onde estão a coletar lixo tornando a praça inviável de convivência dado ao odor e a quantidade de sujeira, imundícia espalhado, sem falar na hora da coleta que o caminhão para exatamente na frente dos comércios, incluindo restaurantes e processa o apanhado ali, exalando um mau cheiro horrível que perdura por horas, incomodando trabalhadores e clientes que por força das circunstâncias estão ali e vivenciam este caos.
Ainda sobre esta situação, faz-se necessário falar sobre o trânsito que fica interrompido enquanto o caminhão faz todo o recolhimento e processamento (prensa) do que se recolhe e tudo isto em pleno centro da cidade, em um dos lugares mais comerciais e importantes de Campina Grande, estamos falando da Praça Edvaldo do Ó, Buninas. O pior, é que tem solução rápida e viável sem grandes esforços, sem necessidade de muita logística, apenas um olhar mais atento e um pouco de experiência, mas que falta aos do outro lado da mesa.
E como estes exemplos aqui apresentados, inúmeros outros fazem parte do viver diário da cidade e que são percebidos, enxergados, sentidos por milhares de campinenses, que pela experiência vivida todos os dias conseguem enxergar soluções práticas e viáveis, mas que são ignoradas desprezadas ou não pensadas por quem tem a condição de fazê-las acontecer, e as razões podem ser que sejam inúmeras, mas uma é real e presente, eles não vivem os problemas que eles mesmos causam ou não solucionam.
Interessante é que mesmo sem a intencionalidade de prejudicar, o agente que está desse lado da mesa, ou seja, o lado que pensa, planeja, que estabelece a ordem das coisas, por faltar a experiência do dia a dia, isto é, não é quem executa, quem administra as circunstâncias para o resultado, quem vivência o dia a dia das operações ou ações todas, não sente o problema e não enxerga o quão prejudicial tem sido a população, ao povo.
A opinião aqui não é uma critica destrutiva ao poder público, não é o apontamento de falha de uma gestão, mas uma ideia para ser pensada, uma sugestão de melhora, porque quer queira quer não, esta problemática é refletida na hora que este povo tem que escolher quem venha gerir a cidade, na hora que o cidadão está com o título na mão e vai depositar seu voto escolhendo quem ele quer para administrar todas estas situações.