O Instagram e o TikTok vêm nos mostrando nas últimas horas centenas de pessoas invadindo o Parque do Povo, em Campina Grande, derrubando portões e pisoteando quem estava pela frente. Motivo? Ficou acertado em reuniões [risos] que aquela área não suporta mais do que ‘x’ forrozeiros. Passou daí, ninguém entra mais (ou não deve entrar). Nas noites mais quentes do PP, portões foram fechados, e a vergonha campinense veio à tona com o tamanho da sua fama junina.
E o problema não é novo. Edições passadas d’O Maior São do João Mundo também registraram povo enfurecido, grades quebradas, acúmulo de pessoas em número PERIGOSO e, ao que se constata, nenhuma iniciativa foi tomada para evitar que, em 2024, a manada louca por um metro de chão no espaço símbolo do evento roubasse a cena mais uma vez.
Ah, já sei: alguém que vai dizer que a prefeitura de Campina Grande desapropriou algumas residências naqueles arredores justamente para [tentar] resolver isso. Resolveu? Não. Então não faz sentido o governo municipal distribuir “notas de esclarecimento” apontando a polícia como a maior culpada pelos episódios vergonhosos que pipocam as redes sociais. A PMCG – ou quem quer que seja – tem todo direito de se expressar sobre o assunto. Óbvio. Mas apontar ‘culpados’ nessas horas exige cautela.
Vamos de ‘ping pong’?
Pergunta: Qual é o maior problema mencionado nas reuniões para discutir [risos] o assunto?
Resposta: O espaço que já não comporta mais tanta gente.
Pergunta: Viatura resolve isso?
Resposta: Não.
Pergunta: Arma de fogo resolve isso?
Resposta: Não.
Pergunta: Efetivo policial resolve isso?
Resposta: ‘Depende’...
Pergunta: Então, o que é que resolve isso?
Resposta: AMPLIAÇÃO de espaço.
Pergunta: E a quem cabe ampliar aquele espaço do Parque do Povo? À polícia?
Se a ideia nada genial da prefeitura de Campina Grande é dizer que não havia policiais suficientes para barrar o povo raivoso dos portões para fora, onde entram aqui a Guarda Municipal e os seguranças de empresas privadas? Qual a função deles na festa? Derrubar casas desapropriadas?
Se não havia policiais militares a contento, quantos guardas municipais estão à disposição dos turistas e campinenses, na hora do ‘vamo ver’? Qual o número ideal de seguranças privados para garantir que ninguém invada o Parque do Povo?
Não... Não venha me dizer que isso não foi discutido nas reuniões que antecedem à festa todo santo junino ano [bonequinho do zap com a mão na testa]...
Sem polícia, sem festa!
A prova de que o problema é, mesmo, falta de ESPAÇO (e não de polícia), é constada numa reflexão bem simples:
Imagine que, num belo dia, apenas 30 mil pessoas frequentem o Parque do Povo.
- Vai caber todo mundo?
- Vai.
- Vai ter invasão?
- Não.
- Vai ter vexame nacional?
- Não.
- Vai ter nota de esclarecimento?
- Não.
- A Guarda Municipal sozinha garante a segurança das 30 mil pessoas?
- Não.
- Os seguranças privados contratados pela PMCG garantem o sossego para esses 30 mil forrozeiros?
- Não.
- Mas se a POLÍCIA estiver presente, tem festa?
- Sim.
- E se a polícia NÃO for, tem festa?
- Não...
Se a prefeitura de Campina quiser, mesmo, ter argumento forte para mostrar que a falha é da polícia, eu sugiro que o Executivo municipal aumente seu efetivo de guardas a ponto de, em 2025, a GM assuma a segurança do Parque do Povo – com ou sem invasões.
Enquanto esse dia não chega, a POLÍCIA é quem segue garantindo o maior festejo junino do planeta.
Porque sem ela, pode ter espaço. Mas não tem festa.
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Saulo Nunes é policial civil, jornalista e escritor