Polícia Civil: sem ‘Autonomia’, seria possível recapturar o estuprador de Queimadas? - Saulo Nunes

Não entendo absolutamente nada sobre os bastidores da ‘Saúde’, por exemplo, mas vou arriscar aqui uma obviedade: quanto mais o setor evoluir, com investimentos e olhar futurista, mais viável será o tratamento das doenças mais graves. Ganha, portanto, o povo que utiliza o SUS nas horas mais dolorosas da vida. 

Agora voltemos para o meu mundo. No histórico dia 19 de março de 2024, uma equipe de policiais civis da Paraíba cercou uma casa no município de Rio das Ostras (RJ) como leões rodeiam um búfalo prestes a ser devorado. Com uma diferença básica nessa comparação: enquanto o maior dos felinos domina os labirintos da selva em suas buscas por sobrevivência, os policiais da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (DRACO) da PCPB pouco conheciam a geografia em que pisavam no RJ. Sem problemas. A missão foi cumprida com absoluto êxito, prendendo [pela segunda vez] o mentor da chamada “Barbárie de Queimadas”.

No mês seguinte, policiais da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF) de Campina Grande foram até Belém do Pará prender duas pessoas que furtaram 50 aparelhos celulares de uma loja dentro de um shopping em Campina. A PCPB investigou os suspeitos, localizou seus endereços, pegou o avião, aterrissou naquela capital do Norte do Brasil e, com o apoio da Polícia Civil local, capturou os investigados pelo crime cometido na Paraíba. 

Eu poderia detalhar ainda o caso do assassino preso por policiais civis da Paraíba no estado da Bahia; ou o assaltante capturado em Fortaleza também por equipes da PCPB enviadas àquele estado. Mas vou poupar dígitos e caracteres, para chegar logo ao ponto central do assunto. 

‘Autonomia’

Em 2019, a PCPB conquistou o que ficou conhecido como ‘Lei da Autonomia’ – na verdade, uma descentralização financeira e administrativa –, cujos resultados práticos viriam com o tempo. A crise mundial da pandemia nos anos seguintes retardou um pouco os frutos dessa nova fase gerencial da PCPB, mas, suplantados os efeitos mais drásticos da Covid-19, o mundo – e a Polícia Civil da Paraíba – voltaram a respirar (literalmente falando). 

Por se tratar de um assunto muito interno na instituição PCPB, é óbvio que o público (leia-se ‘povo paraibano’) não tem conhecimento do tema. Mas foi graças à conquista dessa lei de desconcentração administrativa que, por exemplo, essa sequência de prisões e capturas efetuadas muito além das linhas que contornam a Paraíba tem sido cada dia mais frequente no noticiário policial do estado.

Por uma questão muito simples: antes da lei, determinados entraves burocráticos, por vezes, impediam (por exemplo) que uma equipe policial paraibana ‘voasse’ até o Rio de Janeiro ou Belém do Pará, em busca de foragidos que cometeram crimes aqui na Paraíba. Ou seja, na maioria dos casos, teríamos que contar com a ‘sorte’ para que esses criminosos viessem a ser presos algum dia, onde estivessem. 

Com a aprovação da lei – e após as sequelas da pandemia –, o cenário mudou. A lei de desconcentração administrativa deu mais ‘autonomia’ à Polícia Civil, proporcionando mais celeridade a determinadas decisões internas, o que, no final do novelo, significa combate mais rápido e eficaz ao crime e suas consequências. Digo sem medo de errar que o mentor da ‘Barbárie de Queimadas’ (por exemplo) ainda estaria livre no Rio de Janeiro, se os poderes constituídos da Paraíba não tivessem aprovado a lei aqui em discussão.

Justiça

É muito comum – e ‘natural’, sob determinado ponto de vista – que um secretário de segurança seja cobrado pela sociedade, por meio da imprensa e das redes sociais, acerca do cenário de segurança/violência em seu respetivo estado. Na Paraíba, não é diferente.

E por questão de justiça, sinto-me na obrigação de frisar que a chamada ‘Lei da Autonomia’ da Polícia Civil da Paraíba teve como um dos seus maiores defensores o secretário Jean Nunes. Como disse, é um assunto interno, de pouca/nenhuma repercussão midiática, e por isso mesmo a sociedade não tem conhecimento dessas nuances. Mas justiça seja feita. E dita! 

Uma ilustre desconhecida bandeira de luta como esta entra naquele rol de obviedades que mencionei no início do texto: quanto mais um setor evoluir, com investimentos e olhar futurista, mais viável será o tratamento de suas ‘doenças’ mais graves. E a PCPB vem mostrando muito bem isso. 

No nosso caso, estamos falando de luta contra a impunidade e do papel que o secretário Jean Nunes teve [silenciosamente] nesse processo de potencializar o alcance da Polícia Civil na recaptura de criminosos. 

No fim, estamos falando de justiça.

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Saulo Nunes é policial civil, jornalista e escritor

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