Por Lenildo Ferreira
O empresário Artur Bolinha fechou sua quarta eleição consecutiva para prefeito de Campina Grande com um resultado inexpressivo apesar dos R$3 milhões de fundo partidário recebidos e de estar no que ele mesmo considerava um cenário ideal para a disputa, ou seja, uma campanha com muitos recursos e vinculada ao grupo aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro.
As urnas, todavia, apresentaram números que repetiram os insucessos das candidaturas anteriores de Bolinha, o que certamente torna esta nova derrota a mais árdua para o político – que também registra insucesso em uma eleição para deputado estadual e outra para vice-governador.
MÍDIA DO CANDIDATO AUMENTA REJEIÇÃO
O que se viu na campanha de Bolinha foi uma estratégia de propaganda que certamente contribuiu para aumentar a rejeição do candidato. O empresário abdicou de fazer um guia de qualidade no rádio e na televisão, focando suas energias nas redes sociais, apesar de dois em cada três eleitores acompanhar a propaganda política nos veículos de massa. Um erro crasso.
Nas redes sociais, onde fez um investimento milionário, a campanha de Bolinha gerou bom engajamento com a participação bem humorada de influenciadores locais. Mas, o engajamento não resultou em conversão, ou seja, votos. O canal de Bolinha fez sucesso como rede para blogueiro, mas não para candidato.
Além disso, o tom de ironia e brincadeira nitidamente extrapolou os limites. A percepção de rede social como um espaço leve e propício a conteúdo satírico nem sempre reflete a expectativa do público enquanto eleitor e, nesse sentido, o Bolinha da rede social foi projetado como algo muito distante de um gestor.
ATAQUES EM EXCESSO E PROPOSTAS SEM CLAREZA
A campanha de Bolinha também exagerou no tom dos ataques aos adversários, assim como havia ocorrido em 2020. A crítica às promessas não cumpridas de Bruno Cunha Lima foi levada para um campo de ridicularização, enquanto para Jhony Bezerra o discurso descambou para muito próximo de uma fala xenofóbica, atingindo com isso parcela do eleitorado da cidade que é “forasteiro” e até a própria vice do empresário.
Já na tentativa de se contrapor ao excesso de promessas dos oponentes, Bolinha cometeu também um excesso: adotou uma linha de posicionamento sem clareza.
Postulando propostas exequíveis, Bolinha, por exemplo, não se comprometeu a construir uma terceira UPA até que, segundo ele, as duas existentes funcionem bem, mas, por outro lado, defendeu repasse de recursos para os clubes de futebol, uma lógica que pode até fazer algum sentido, mas uma conta que não fecha para a maioria das pessoas.
NÚMEROS SÃO IMPLACÁVEIS: RESULTADO CONSTRANGEDOR
Com R$3 milhões em caixa, Bolinha somou apenas 16.282 votos. Praticamente o mesmo resultado de 2016, quando obteve 15.539 votos – mesmo com uma campanha franciscana. Para que se tenha uma ideia, o empresário recebeu dez vezes mais recursos este ano que o candidato André Ribeiro, mas sua votação foi apenas três vezes a do postulante do PDT.
Artur Bolinha, muito provavelmente, seria um competente gestor público, mas suas duas últimas campanhas e, principalmente, a deste ano, foram mal geridas e contribuíram para resultados inexpressivos e até constrangedores.