ELEIÇÕES NA PARAÍBA: Pelo menos nisso não se pode criticar o presidente Lula - Por Saulo Nunes


É preciso estar muito envolvido na política [que não é o meu caso] para saber, exatamente, o que se passa nos bastidores dessa disputa pelo poder que se reprisa de dois em dois anos. Interesses obscuros – e escancarados, dependendo da situação – se entrelaçam de tal forma que, para um curioso distante do ambiente como eu, fica difícil entender o que é início, meio e fim nesse labirinto de jogos [às vezes, mortais]. 

As eleições 2024 na Paraíba podem ser um exemplo. Como você, leitor, já deve ter conhecimento, a Polícia Federal deflagrou – antes da votação em primeiro tuno e em plena efervescência do pleito – operações que apontam políticos/candidatos e familiares envolvidos (segundo a PF) com traficantes em João Pessoa. Não preciso entrar em detalhes porque o assunto já ‘subiu’ para a mídia nacional.

Mas eu vou resumir a brincadeira: o político ‘compra’ do traficante um determinado território para somente ele, o político, entrar na área ‘vendida’ e pedir voto. Em troca, só Deus sabe o que é dado ao chefe do tráfico por essa caridade.  No fim, jovens morrem antes dos 30; pobres se tornam zumbis viciados em entorpecentes; famílias inteiras são destruídas. Resumindo, é isso.

O curioso é que o alvo das operações é justamente um grupo/núcleo político que é base do governo Lula na Paraíba. Classifico o fato como ‘curiosidade’ porque, não raro, a sociedade civil que se diz ‘organizada’ costuma, por meio de seus segmentos representativos, afirmar que “as polícias fazem o que seus gestores mandam ou, no mínimo, permitem”. Alguém já ouviu isso por aí ou não? 

Quem não lembra, por exemplo, as acusações contra Bolsonaro, quando este “mexeu na PF o quanto quis para intervir em investigações”? Quem não recorda do tal “uso abusivo da PRF para interferir no resultado eleitoral de 2022”? Eu nem deveria explicar os trechos entre as aspas, mas, para desencargo de consciência, é bom lembrar que eles apenas reproduzem o que a sociedade civil ‘organizada’ dissemina pelos quatro cantos do país.  Ou seja, não é fala minha, embora eu ache absolutamente provável que Bolsonaro tenha tentado/conseguido meter o dedo onde quisesse. 

Por esse prisma, pelo menos no que se refere ao caso da Paraíba, ninguém pode acusar o presidente Lula de “interferir nas operações da PF”. As investigações da Polícia Federal em curso atingem em cheio um grupo político aliado do governo federal e, por óbvio, a ala bolsonarista segue – manhã, tarde e noite – tirando muito proveito disso. 

Numa visão mais otimista do cenário, eu poderia acreditar que a Polícia Federal atua de forma verdadeiramente independente, sem precisar olhar os lados [políticos] que a rodeiam. Isso me deixaria muito feliz; de verdade. Seria um bico de luz; um motivo para acreditar que o Brasil tem jeito. 

Mas como iniciei a conversa de hoje: interesses obscuros – e escancarados, dependendo da situação – se entrelaçam de tal forma que, para um curioso distante do ambiente como eu, fica difícil entender o que é início, meio e fim nesse labirinto de jogos. 

Só que jogos com traficantes costumam resultar em morte matada de alguém, não raro um inocente que nada tem a ver com a história. 

Palmas para Lula! Ou para a Polícia Federal, se a esperança de um país melhor assim nos permitir.  

-------

Saulo Nunes é jornalista, escritor e policial civil

Postagem Anterior Próxima Postagem