Por Alexandre MOURA (*)
“Comparativo Brasil – China” no setor de Tecnologia da Informação nos anos 80
Por “provocação” de alguns empresários sobre como era o “cenário” do setor de TI (Tecnologia da Informação) na China, comparando-se com o Brasil, nas décadas de 80 e 90 do século passado, resolvi escrever sobre este tema, mesmo que de forma “superficial”. Como o assunto é interessante, vou dividi-lo em duas colunas. Essa com informações sobre os anos 80 (inclusive foi nesse período que comecei a ir a China) e a coluna seguinte, sobre a década de 90. O Brasil e a China, nos anos 80, estavam em estágios bem diferentes, no que diz respeito ao desenvolvimento do setor de TI. Naquele momento, as duas nações enfrentavam um “processo de modernização” e tinham desafios econômicos e políticos próprios, mas com abordagens bastante distintas, em relação ao “mercado” (tanto local quanto internacional) de TI e à indústria de informática, fatores importantes para o desenvolvimento econômico e social de um país. O Brasil vivia um período de transição política e econômica, enfrentando uma crise fiscal, hiperinflação e grandes desafios para seu desenvolvimento tecnológico, com as políticas de substituição das importações, o que incentivava a produção local, mas também limitava/impedia o acesso às tecnologias mais avançadas. O mercado de TI no Brasil era relativamente restrito, com algumas grandes empresas que produziam computadores e sistemas operacionais (como o “SOX” da Cobra S/A), mas com restrições em termos de inovação e principalmente, “competitividade internacional”.
“Comparativo Brasil – China” no setor de Tecnologia da Informação nos anos 80 (II)
Já a China estava no início de uma era de reformas econômicas, com a abertura da economia e atração massiva de investimentos estrangeiros. Era o início da chamada política de "Reforma e Abertura" (na realidade iniciada no final dos anos 70), que visava modernizar a economia e incorporar tecnologias do exterior. Com relação ao setor de TI, a China ainda estava muito atrasada em relação ao Ocidente (e em menor grau, ao Brasil também), com a indústria de computadores sendo incipiente e fortemente controlada pelo governo. O país tinha uma grande dependência da antiga União Soviética e de outros países socialistas, em termos de tecnologia e equipamentos. Havia pouca infraestrutura tecnológica avançada, e a produção de computadores era rudimentar. Com a produção de hardware voltada praticamente, para as necessidades internas e um baixo (ou mesmo inexistente) nível de integração com o mercado global e mesmo regional. Nesse mesmo período, o Brasil implementou a “Lei de Informática” (1984), que tinha como objetivo “promover o desenvolvimento da indústria de tecnologia local, oferecendo incentivos fiscais para empresas brasileiras que produzissem produtos de informática no território nacional”. Com as principais iniciativas do governo brasileiro, voltadas para a criação de Polos Tecnológicos e incentivos à produção de hardware local. O PaqTc-PB (Fundação Parque Tecnológico da Paraíba) por exemplo, foi criado nessa época (1984).
“Comparativo Brasil – China” no setor de Tecnologia da Informação nos anos 80 (III)
O mercado de TI no Brasil ainda era também, dependente de tecnologias importadas e os avanços eram limitados pela falta de capacidade de inovação e de recursos para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e a inexistência de “capital de risco” para as empresas nascentes. O setor privado (especialmente as grandes empresas) começava a adotar sistemas de informática e softwares de gestão. A China, por outro lado, estava começando a adotar algumas tecnologias, mas sua indústria de TI tinha dificuldade para absorver essas tecnologias. Constatada essa “dificuldade”, o governo chinês fez esforços para modernizar a infraestrutura tecnológica, mas o país estava longe de ser competitivo no desenvolvimento de hardware ou software de ponta. O primeiro computador pessoal chinês, o "Dazhong" (numa tradução livre significa “Público”), foi desenvolvido no final dos anos 80 (mais ou menos, na mesma época em que o Brasil já produzia e comercializava, vários “clones” do “IBM PC”), e a indústria chinesa estava mais focada em modelos básicos de computadores. A China (diferente do Brasil) adotou uma abordagem de parcerias com empresas estrangeiras, para importar e adaptar produtos, com “valor adicional” local muito limitado. O país estava começando a aprender com as nações mais desenvolvidas, mas ainda não tinha o potencial de criação de tecnologia própria em larga escala, para ser comercialmente viável.
“Comparativo Brasil – China” no setor de Tecnologia da Informação nos anos 80 (IV)
No “campo acadêmico focado em TI”, nos anos 80, o Brasil já possuía algumas universidades e centros de pesquisa voltados para a informática, como a USP, a UFRJ, o ITA e o “Campus II” da UFPB em Campina Grande (hoje UFCG). Apesar dos esforços, o Brasil ainda estava muito distante das grandes potências de TI, como os Estados Unidos e países da Europa (em termos de infraestrutura), mas a frente da China nesse aspecto. Com o uso de TI no país, “concentrado” em grandes empresas, nos órgãos governamentais e no sistema financeiro (bancos), todos começando a utilizar sistemas de gerenciamento de dados, processos administrativos automatizados e redes de computadores, mas com “um problema” (semelhante ao da China) escassez de “software na língua local”. No mesmo período, a China tinha uma infraestrutura de educação e pesquisa muito limitada (mais limitada que a do Brasil) no campo da informática. As universidades chinesas estavam começando a criar programas de “Engenharia da Computação”, mas o foco era muito mais em adaptar tecnologias e cursos existentes, do que em criar inovações próprias. A utilização de Computadores Pessoais (PCs), foi ainda mais lenta que no Brasil daquela época. O mercado doméstico de PCs era muito “primitivo”, com poucas opções de equipamentos e restrito a alguns setores industriais e acadêmicos. Foi nesse período, que o governo chinês começou a investir em centros de tecnologia e a enviar estudantes para capacitação no exterior, especialmente em áreas como engenharias e ciência da computação, “preparando o terreno” para o crescimento futuro do setor. Podemos dizer, de “uma forma geral”, que nos anos 80, o Brasil estava “à frente” da China em TI. Na próxima coluna, vamos tratar dos anos 90 e ver como a “situação” começou a mudar.
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Engenheiro Eletrônico, Mestrado em Engenharia Elétrica, MBAs em e Comércio Eletrônico e Software Business, pela N.S. University (Estados Unidos), acionista da Light Infocon Tecnologia S/A, Diretor da LightBase Software Público Ltda, Conselheiro-Titular do SEBRAE-PB, Fundador e Membro do Conselho de Administração do SICOOB Paraíba, Ex-Presidente e Diretor da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado da Paraíba e Diretor de Relações Internacionais da BRAFIP.