Por Alexandre MOURA (*)
“Comparativo Brasil – China” no setor de Tecnologia da Informação nos anos 90
Continuando no tema da última coluna como prometido, vou fazer agora o “comparativo Brasil – China” no setor de TI (Tecnologia da Informação) nos anos 90”. A “década de 1990” veria um impulso no setor de TI, com a crescente “popularização” da Internet e o aumento da presença de empresas de tecnologia nos dois países. Neste período, o Brasil se beneficiou da expansão da infraestrutura de telecomunicações e da introdução de vários “softwares de código aberto”, o que ajudou, de certa forma, a fomentar o desenvolvimento da indústria local de TI. A China, por sua vez, experimentou um crescimento “explosivo” nesse setor, a partir de meados dos anos 1990, com investimentos massivos em infraestrutura tecnológica, P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e cada vez mais, fazendo parcerias com empresas globais. O governo chinês implementou diversas políticas agressivas, para fomentar a indústria de TI, tornando-a um dos motores do crescimento da economia chinesa nos anos seguintes.
“Comparativo Brasil – China” no setor de Tecnologia da Informação nos anos 90 (II)
Enquanto isso, no início da década de 1990, o Brasil estava tentando se estabelecer como um “Polo Regional de TI (América Latina)”, com esforços significativos para criar uma indústria local. Entretanto, enfrentava limitações em termos de inovação e recursos, especialmente “capital de risco”. Neste mesmo período, a China sob forte investimento e controle estatal, já mostrava “sinais” que iria deslanchar e se tornar, no médio prazo, um dos líderes globais em tecnologia, principalmente no desenvolvimento de hardware, software e serviços de TI, o que realmente aconteceu. A década começou com o Brasil possuindo uma infraestrutura de TI mais avançada, mas a China já apresentando, claramente, um potencial de crescimento mais robusto para os anos seguintes. Na metade dos anos 90 os dois países estavam aproximadamente, “nivelados” e foi nesse período (1996) que, por iniciativa do Núcleo Softex de Campina Grande com o apoio do CNPq, do “antigo” MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia, do SEBRAE e da FINEP, foi iniciada uma “operação comercial e técnica”, através da instalação de um Escritório na China, em parceria com o MOST (Ministério de Ciência e Tecnologia da China).
“Comparativo Brasil – China” no setor de Tecnologia da Informação nos anos 90 (III)
O “China Office”, como ficou conhecido no Brasil, operou por cinco anos (1996-2000) na capital Beijing, proporcionando a cerca de 120 empresas brasileiras de TI (Tecnologia da Informação), a oportunidade de ter seus produtos e serviços, apresentados ao mercado da Ásia. Sendo realizadas diversas ações visando a comercialização de soluções/produtos brasileiros no mercado local, destacando-se: “3 Edições de Rodadas de Negócios”, denominadas de ASBM – Asia Software Brazilian Meeting (“Encontro Asiático do Software Brasileiro”, em uma tradução livre); Participação de empresas brasileiras de TI com estandes, em quatro feiras de tecnologia na China e uma em Cingapura; 15 missões técnicas/comerciais de empresas à China (média 10 empresas por missão); Edição de um “Boletim Informativo” sobre o mercado chinês para empresas brasileiras; e Publicação de vários “Catálogos em Mandarim” (idioma oficial da China) com a sinopse de 90 produtos/serviços de softwares brasileiros voltados para o agronegócio. Outro resultado do trabalho do China Office, foi a instalação em Campina Grande, dentro da Fundação Parque Tecnológico da Paraíba, do “TecOut Center” – “Centro de Internacionalização de Software”, com o apoio dentre outras instituições, da FINEP. O modelo de negócios do TecOut Center serviu inclusive, de modelo para instalação na cidade chinesa de Zhaoqing, de uma iniciativa similar pelo governo local.
“Comparativo Brasil – China” no setor de Tecnologia da Informação nos anos 90 (IV)
No final dos anos 90, ficou claro que a a China se tornaria um dos líderes globais em tecnologia, como previsto anteriormente. Com a chegada do século XXI, a “curva ascendente” da China no setor de TI se confirmou e acelerou. Diversos fatores contribuíram para esse processo, destaco três. 1. Investimentos, perenes e crescentes, em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na área; 2. A ascensão de empresas como Huawei, Alibaba, Tencent, Baidue e Xiaomi, colocou a China no centro das inovações tecnológicas globais. A Huawei, em particular, tornou-se uma líder mundial em “infraestrutura de telecomunicações e tecnologia 5G”, enquanto empresas como Alibaba e Tencent dominaram áreas de e-commerce e jogos online; e 3. O “Plano Made in China 2025”, apresentado em 2015. Este plano tem/teve o objetivo principal, de transformar a China em uma potência global em tecnologia de ponta, com foco em áreas como IA (Inteligência Artificial), robótica, veículos elétricos/autônomos e “inovação digital” voltada para “cidades inteligentes”. Enquanto o Brasil, infelizmente, neste mesmo período, “parou no tempo”. Perdemos espaço e fomos ultrapassados pela China, no mercado global de TI. Os últimos 20 anos mostram isso claramente! Em cerca de 40 anos, perdemos o “Bonde da TI”, em relação aos chineses.
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Engenheiro Eletrônico, Mestrado em Engenharia Elétrica, MBAs em e Comércio Eletrônico e Software Business, pela N.S. University (Estados Unidos), acionista da Light Infocon Tecnologia S/A, Diretor da LightBase Software Público Ltda, Conselheiro-Titular do SEBRAE-PB, Fundador e Membro do Conselho de Administração do SICOOB Paraíba, Ex-Presidente e Diretor da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado da Paraíba e Diretor de Relações Internacionais da BRAFIP.