Por Lenildo Ferreira*
O ano é 2025. Século XXI. Dizem que são tempos modernos; na verdade, pós-modernos. Mas, a velhíssima política, renovada em discursos, caras e estratégias, com lorota de nova, continua a mesmíssima de décadas atrás.
Retrato da velha política, vê-se que os sobrenomes continuam tidos como símbolos de supremacia, o mérito do sangue. Herdeiros, pelo simples pertencimento aos seus clãs, nascem com portarias pré-assinadas (desde a eternidade) e garantias nos espaços de poder.
A retórica das oligarquias é exatamente e sempre a mesma. Falam em vocação, relembram genealogias, apontam no vínculo do berço uma espécie de direito natural aos privilégios.
E falam em “servir ao povo” quando, na verdade, a premissa é invertida: eles têm uma convicção profunda de que possuem uma espécie de herança eterna e sagrada de ser servidos.
Em um mundo real onde (ex-) auxiliares de governo, com contas a pagar no fim do mês (nem todos abastados integrantes de clãs privilegiados), não sabem se terão um “emprego”, familiares de sangue azul sem nenhuma contribuição dada à coletividade são convocados primeiro.
(Viva a defesa da família! Vivam os reis! Viva a velha nova política!)
E quem vai criticar? Quem vai dizer que está errado? Quem vai questionar a obviedade destas contradições tão profundas?
Ai de quem o fizer! Inimigo! Praticamente um herege, blasfemo e incréu!
Pudera: quem, sendo pobre mortal, plebeu e sem berço, vai contrariar aqueles que são convictos de terem sido escolhidos por Deus para reinar?
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*Jornalista e advogado