Por Lenildo Ferreira
O cidadão João Gomes de Souza Neto e o político Sargento Neto encontram-se diante de um dilema. Ambos são apenas um, claro, mas os arranjos políticos não raro tendem a fazer com que o indivíduo negue a própria história.
Nos últimos quarenta dias, o sujeito de fala firme e pisada forte aceitou se submeter a uma situação muito constrangedora: ser secretário sem ser enquanto não era deputado sendo.
Aliado de primeira hora na hora ruim, caiu na rotina de tantos outros comissionados, esperando dia após dia o Semanário Oficial, até que, por ele, descobriu que seus serviços não eram mais necessários.
Crítico voraz da esquerda, viu-se despedido do governo que jurava ser conservador depois de chamar o petista Lula de canalha nas redes sociais. Coincidência?
Diante das notícias e do fato consumado de um desenlace humilhante aos dias de espera, o Sargento calou-se. E o governo onde ele deixou de caber ativou uma narrativa para justificar sua saída.
E agora? O novamente deputado fará o que? Vai corroborar a teoria de uma saída acordada? Vai contrariar a versão oficial? Vai ficar no meio-termo, botar panos quentes e seguir como se nada tivesse acontecido?
Provavelmente, não haverá rompantes, falas firmes e pisadas fortes. O discurso da acomodação, em nome de todas as conveniências, tende a resolver.
Exceto a consciência, a encarada no espelho, o encontro silente com o travesseiro à noite, aquela hora quando o indivíduo faz o próprio julgamento implacável.
O Sargento Neto de uma trajetória de conquistas e de gradual ascensão política não percebeu que foi engolido na voragem de grupos que não admitem estranhos e que historicamente desconstroem lideranças em desenvolvimento...
Passou a bater continência demais. Absorveu até certos hábitos, como o ignorar placidamente interlocutores que estivessem fora do ambiente dos importantes.
Ambiente do qual ele, sem perceber, também estava fora. Desde sempre. Por nascimento.
E agora, qual será a patente do Sargento? Depende do papel que ele mesmo estará disposto a exercer.
Seja como for, além de o poder ser uma ilusão, a vida mostra que há certos círculos nos quais o sujeito, mesmo o mais graduado e que se repute muito importante, jamais passará de ser visto e tratado como soldado raso.